29
de abril de 2012 | N° 17054
ARTIGOS
- Claudia Costin*
É possível transformar a
educação pública?
Num
recente estudo da egípcia Mona Morshed, da McKinsey, a pesquisadora evidencia
que diferentes redes de escolas públicas têm sucesso quando adotam medidas
compatíveis com o estágio de avanço de seus sistemas escolares. Em outros
termos: o receituário atual da Finlândia ou da Coreia não é o indicado para o
Brasil.
O
Brasil investiu pouco e tardiamente em Educação Básica. Em 1930, enquanto a
Argentina tinha 62% das suas crianças nas escolas e o Chile chegava a 73%,
nosso país contava com apenas 21,5%. Apenas em 1997 conseguimos universalizar o
acesso das crianças de sete a 14 anos ao Ensino Fundamental.
Mas,
logo em seguida, um sério problema de qualidade colocou-se no processo de
ensino. Finalmente haviam entrado nas escolas os filhos dos não letrados ou de
pais com baixa escolaridade. Naércio Menezes, da Insper-SP, mostrou, em artigos
recentes, que o sucesso escolar depende, em grande medida, da escolaridade dos
pais.
Este
é o grande desafio da educação brasileira: como ensinar crianças cujos
familiares, em muitos casos, não concluíram as séries iniciais do Ensino
Fundamental. Certamente não é copiando fórmulas da Finlândia, país em que boa
parte da população tem formação universitária.
Os
dados educacionais brasileiros são reveladores: na última aplicação do Sistema
de Avaliação da Educação Básica (Saeb) com resultados divulgados,
constataram-se avanços importantes em relação aos exames anteriores, mas, entre
os alunos do 5º ano, apenas 34,2% aprenderam o que deveriam em língua
portuguesa e 32,6%, em matemática.
No
9º ano, em língua portuguesa, a situação é pior: 26,3% dos alunos aprenderam o
que deveriam e, em matemática, só 14,8%. No Ensino Médio, 28,9% dos estudantes
dominam os conhecimentos em português. Em matemática, o pior resultado: 11%.
No
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), teste organizado pela
OCDE que permite avaliar a qualidade da educação oferecida aos jovens de 15
anos, o Brasil também tem mostrado avanços, desde sua primeira participação em
2000 até a mais recente, em 2009, quando fomos o terceiro país que mais
avançou. Mas, mesmo assim, estamos apenas em 53º lugar, abaixo da Romênia e do
México.
Quais
são as nossas tarefas nesse contexto desafiador? Em primeiro lugar, estabelecer
um currículo nacional claro, que deve ser adotado em todo o país e
complementado com conteúdos regionais. Alfabetizar as crianças aos seis anos,
como fazem as boas escolas privadas e, nos três primeiros anos, concentrar-se
em ensino da língua e de matemática. Investir no professor, valorizando-o,
capacitando-o e dando-lhe instrumentos para o processo de ensino.
Manter
um bom sistema de reforço escolar, voltado às crianças com mais dificuldade em
aprender. Adequar a educação a cada fase do desenvolvimento da criança e do
adolescente e evitar excesso de disciplinas com carga horária diminuta,
fenômeno que assola o Ensino Médio.
Mais
do que tudo, é fundamental termos persistência estratégica nos caminhos a serem
seguidos para transformar a educação. Esta é uma área que apresenta resultados
no médio e no longo prazo. Mas, para obtê-los, é fundamental afastar o
fisiologismo vigente na máquina em muitos Estados e municípios e manter
continuidade e consistência técnica nas políticas educacionais. É possível!
*SECRETÁRIA
DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
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