CLAUDIA
ANTUNES
Diplomacia dilmista
RIO
DE JANEIRO - Já foi dito que a popularidade de Dilma deriva, em parte, da tolerância
com que a velha classe média trata seus atos, em contraste com a aversão a
quase tudo o que Lula fazia. Essa tendência marca também a avaliação da política
externa dilmista.
A
diferença entre os dois governos nessa área nada tem a ver com uma suposta
prioridade da presidente aos direitos humanos. Depois de um voto contra o Irã na
ONU, a posição no tema retomou o fio discreto de antes.
O
que mudou, de fato, é que Dilma passa sem-cerimônia sobre os punhos de renda da
diplomacia, resistente a ações bruscas -e medidas potencialmente controvertidas
decididas por ela avançam sem polêmica.
Um
exemplo foi sua ameaça de romper o acordo automotivo com o México, que seria um
ato inédito na Associação Latino-Americana de Integração. Os críticos do
protecionismo, sobretudo o da Argentina, dessa vez não levantaram a voz contra
a proteção à indústria nacional.
O
mesmo silêncio obsequioso cercou a imposição a turistas espanhóis de controles
iguais aos aplicados à entrada de brasileiros na Espanha. Recorde-se, para
comparação, a gritaria contrária em 2004, quando o país decidiu tomar as
digitais de americanos, sob idêntico argumento de reciprocidade.
Dilma
mantém afastado o embaixador brasileiro na Organização dos Estados Americanos,
em represália a pedido para que suspendesse a construção de Belo Monte. Ninguém
a acusou de minar a única entidade regional em que os EUA estão presentes. Tampouco
houve reparos, do lado dos que veem antiamericanismo em tudo, à falta de gestos
simpáticos dela na entrevista com Obama na Casa Branca.
Dilma
fez do pavio curto parte da marca de gerente, e também na diplomacia foi bem-sucedida
em esvaziar seus atos de conteúdo político explícito.
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