sábado, 21 de abril de 2012



22 de abril de 2012 | N° 17047
PAULO SANT’ANA

Direito adquirido

Esses dias, eu entrei num edifício de 19 andares, no Centro. Penetrei no elevador e fiquei lívido, esperavam-me dentro do elevador dois possantes cães pitbull, seguros em duas guias por seu dono, sem focinheiras e sem enforcadores.

Eu ali no elevador, quase encostado aos dois pitbulls.

O dono dos pitbulls falou com seus cães: “Frank e Nero (esses eram os nomes dos cães), este senhor que está na frente de vocês é aquele que todos os dias escreve no jornal que vocês são cães criminosos.

Mostrem para ele, agora, aqui dentro deste elevador, que vocês não são criminosos, não estraçalhem este senhor. E acho até que diante da fúria com que ele ataca a raça de vocês em sua coluna, vocês poderiam atacá-lo agora, em legítima defesa”.

E eu, pálido de medo diante das duas feras.

Até que eu, que tinha de ir para o 18º andar, desci às pressas e apavorado no quarto andar.

Nunca me esqueço do edifício em que morei há 40 anos. Porque no regulamento e na convenção do condomínio estava escrito o seguinte artigo: “Só podem residir no condomínio cães com menos de 30 centímetros de comprimento”.

Diante de tal dispositivo, quase todos os moradores do edifício adquiriram cães pequenos, com menos de 30 centímetros de comprimento.

Só que, passado um ano, os cães pequenos ficaram grandes, alguns quase gigantescos.

E a administração do condomínio tratou de expulsar do ambiente do prédio os cães que cresceram.

Os proprietários dos cães ainda tiveram tempo de evitar a expulsão de seus animais entrando na Justiça e ganhando uma liminar que mantinha os cães como moradores, em face do princípio do direito adquirido.

Por sinal, enquanto convivi aquele minuto com os dois pitbulls no elevador, fiquei pensando se é permitido transportar cães em elevadores de edifícios, em companhia de outros passageiros.

Há alguns condomínios que recomendam que nos elevadores os cães só podem ser transportados quando forem carregados no colo de seus portadores.

Como haveria aquele dono dos dois cães pitbulls de transportá-los no colo?

Quanto a ser provavelmente proibido que sejam transportados cães nos elevadores, por onde então os cães desceriam e subiriam num edifício? É óbvio que têm de viajar nos elevadores, não há outra saída.

Gosto muito de uma piada: vinha um enterro no rumo do cemitério, aqui na Avenida Azenha, subindo a lomba. O féretro vinha a pé, desde a Rua Duque de Caxias.

O caixão estava na frente. Logo atrás do caixão, um homem caminhava com um pitbull de guia e na coleira.

Depois seguiam acompanhando o caixão uns 40 homens em fila indiana, atrás do homem do pitbull.

Muitas pessoas masculinas, durante o percurso, saíam da calçada e perguntavam ao homem do pitbull sobre quem era o defunto. O homem respondia que era sua mulher, que tinha sido morta, estraçalhada pelo pitbull que ele trazia pela guia no enterro.

Logo em seguida à resposta, os homens que perguntavam aquilo ao homem do pitbull, pediam, todos, que ele emprestasse a eles o seu pitbull por uma semana, sonhavam assim com a eliminação das suas mulheres.

E o homem do pitbull apontava para a fila indiana que vinha atrás de si e dizia: “Empresto, mas entrem na fila aí atrás”.

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