VINICIUS
TORRES FREIRE
O mundo e a bola murcha na
Espanha
Espanhóis
amargam novo pico do desemprego já brutal e onda de desconfiança sobre os seus
bancos
O
BARCELONA perdeu, o Real Madrid perdeu, e o assunto da semana na finança
internacional foi a bola murcha dos bancos espanhóis. Um país europeu depois do
outro reconhece a recessão. Os americanos pararam de melhorar. O mundo não vai
dar uma força para o crescimento da economia da primeira metade do governo de
Dilma Rousseff.
O
que temos a ver com as finanças da Espanha? Quase nada, assim como a Grécia até
2009 era só um lugar lindo para as férias, até que quebrou, emperrou o sistema
bancário europeu, arrastou outros países e ameaçou derrubar uma série de
dominós financeiros pelo mundo.
O
tumulto que começou na pequena Grécia tira pontos do crescimento mundial desde
2010.
Os
empréstimos ruins dos bancos espanhóis levaram o país para o buraco.
Emprestaram demais para especulação imobiliária, como se sabe. O governo fez
dívida brutal para cobrir os rombos, que em parte ainda estão lá. Ou voltaram a
aparecer, pois a Espanha está em crise faz quatro anos, o que provoca
deterioração ainda maior do balanço dos bancos.
Por
fim, mesmo as instituições remediadas ou saudáveis têm dificuldades para captar
dinheiro. Os bancos espanhóis pegaram dinheiro com o governo, pegaram dinheiro
com o Banco Central Europeu e mesmo assim estão na pindaíba.
A
conversa desta semana de bola murcha no futebol e na finança, porém, é mais
feia. Discute-se quem vai colocar dinheiro nos bancos meio quebrados ou
descapitalizados do país.
A
Alemanha diz que a Europa e suas instituições não vão dar um tostão. O governo
da Espanha mal consegue arrecadar o bastante para cumprir sua meta fiscal (de
redução de dívida), dada a recessão ainda pior do que a prevista.
Recessão,
receita de impostos problemática e risco de gastos na salvação da banca fizeram
os donos do dinheiro grosso levantar suspeitas sobre a Espanha. Na prática,
isso significa cobrar mais para emprestar ao Estado espanhol ou para manter
títulos da dívida espanhola em carteira. Já sobrecarregada de dívidas, a
Espanha tem de pagar mais para rolar o papagaio.
Sim,
a Espanha não é a Grécia. Para o bem ou para o mal, ressalte-se. A Espanha tem
finanças muito mais ordenadas e não deve ser abandonada à própria sorte, pois é
"grande demais para quebrar". Ser "grande demais" é também
um problema. Mesmo uma balançada feia da Espanha pode causar estrago.
O
novo problema espanhol começou a fermentar agora. O governo de lá diz que não
haverá rolo nos bancos. Mas o "mercado" não tem acreditado. Se
continuar descrente e piorar a recessão de crescimento e de receitas de
impostos, a Espanha terá cada vez menos crédito. Quando se vai saber o que vai
dar? Trata-se de um jogo marcado lá para o meio do ano.
Um
ano, aliás, que já seria apenas medíocre, de recessão suave na Europa, de
crescimento que já desanima (mas nada grave) nos EUA, de China mais devagar.
Tudo isso deixa cinzento o cenário para a nossa indústria, que ainda padece de
câmbio ruim e falta de crédito para o consumidor, que, de resto, comprou demais
nos últimos anos e está numa ressaca de despesas grandes.
Não
é um desastre. Mas vai ser enjoado.
vinit@uol.com.br
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