29
de abril de 2012 | N° 17054
VERISSIMO
Catastrofismo
Lembra
o bug do milênio? Era apenas uma das catástrofes que nos esperavam no começo do
século 21, quando muita gente se convenceu de que o mundo ia acabar. Não
aconteceu nada do previsto, o que não impediu a volta do catastrofismo. Agora
estão dizendo que 2012 será o último ano da Terra. Estaria no calendário dos
Maias, que viram nosso destino nas estrelas.
A
aproximação do milênio, que levou tantos ao desespero ou ao misticismo, me
levou a ler sobre o tempo e sua história, o que não deixou de ser uma forma
organizada de pânico. O resultado é que estou pronto para voltar ao assunto,
nem que seja para não desperdiçar a erudição acumulada.
Desde
que começou a fazer calendários, o homem precisou sincronizar os ciclos lunares
com os anos solares e organizar o resultado num método razoavelmente uniforme
de medir o tempo. O tempo natural e o tempo padronizado nunca coincidiam, os
números nunca fechavam. A solução era abandonar qualquer pretensão a um
calendário fixo e simétrico e tirar ou botar dias arbitrariamente, para
diminuir os desencontros entre o tempo real e sua aferição humana.
Muitas
fórmulas foram tentadas, mas no ano 150 A.C. os romanos inventaram um mês de 22
ou 23 dias, chamado Mercedonius, que deveria ser inserido depois do dia 23 de
fevereiro em anos intercalados – ou sempre que fosse preciso. No velho
calendário romano, 23 de fevereiro era último dia do ano e dia do Festival da
Terminalia, quando se faziam sacrifícios a Terminus, deus dos limites.
Quem
determinava se era preciso ou não acrescentar o Mercedonius no calendário e
tornar o ano um mês mais longo eram os pontífices, os romanos encarregados de
administrar os cultos do estado. E passou a ser comum os pontífices só
alongarem os anos em que seus amigos estavam no poder.
Com
um ou mais Mercedonius, estendiam o mandato de seus preferidos sem necessidade
de emendas de reeleição ou compra de votos. O que só mostra como é antigo o
hábito do patriciado de proteger os seus. Quem acabou com o costume foi,
surpreendentemente, Cesar, quando fez suas própria reforma do calendário
romano. Mas o Cesar daquele tempo era Julio, o original.
Tudo
isto para mostrar como é complicado saber ou prever qualquer coisa baseada em
calendários e na disposição dos astros já que tanto os calendários quanto os
mapa astrais foram arbitrariamente modificados, pelo homem, através da
história.
Mas
se a humanidade ainda não absorveu bem o que a teoria heliocêntrica de
Copérnico significou para a astrologia, não será o simples bom senso que irá
acalmá-la.
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