quinta-feira, 12 de abril de 2012



12 de abril de 2012 | N° 17037
PAULO SANT’ANA


Um lado em silêncio

Ouvi, ontem, pela segunda vez, o vigilante que matou a cadela pitbull. Ele ficou comigo dentro de uma sala, repito, pela segunda vez, por mais de uma hora.

Eis o que ele me disse agora: “Quero lhe dizer, senhor Sant’Ana, que eu crio há seis anos, no meu quintal, um cão pitbull. Então, eu conheço há seis anos, intimamente, esta raça de cães. (Diga-se de passagem que este colunista ficou perplexo com essa coincidência.) Mas o que interessa, seu Sant’Ana, é que a cadela não era aleijada, como estão dizendo.

Quando ela avançou em mim na primeira arremetida, eu não sei se pela minha reação corporal ou por ter ouvido do namorado da dona dela a palavra NÃO, como advertência ao animal, a cadela recuou.

Então eu notei que realmente ela tinha um defeito na perna esquerda, porque só se apoiava nas pernas direitas. Mas esse defeito não a impedia de correr, tanto que avançou de maneira impetuosa em minha direção, já que seu inicial recuo foi apenas uma reação rápida, em seguida a cadela avançou resolutamente, mais uma vez, sobre mim, foi quando puxei o revólver e atirei nela.

Se eu não tivesse atirado, ela cravaria suas presas em mim. Era eu ou ela. Quando a cadela caiu morta aos meus pés, a dona dela e uma veterinária começaram a me xingar, chamando-me de assassino. E o namorado da dona da cadela me mandou largar o revólver que ele iria quebrar a minha cara. Eu não aceitei o convite para brigar fisicamente com ele, virei as costas e fui-me embora”.

Foi isso que me disse ontem pela segunda vez o vigilante.

A gente que tem, como eu, a experiência de interrogar pessoas, quando fui inspetor e delegado de polícia e agora que sou jornalista, trata de exercer um controle sensorial sobre os interrogados.

E o meu controle sensorial sobre o vigilante, no nosso encontro de ontem, me diz que ele está falando a verdade.

Falei pelo telefone com a dona da cadela morta a tiro. Disse a ela que precisava de sua versão, que por enquanto eu estava só divulgando entrevistas minhas com o vigilante, que isso não era igual, eu precisava urgentemente da versão da outra parte.

Ela me disse que seu advogado a aconselhara a não falar nada para ninguém. Desliguei.

O mesmo com o namorado da dona da cadela. Ele me disse que não podia falar, estava aconselhado pelo seu advogado.

Então pensei: “Chega de intermediários, vou logo dirigir-me ao advogado”.

Foi assim que procurei o advogado da dona da cadela e de seu namorado, bacharel Fábio Milman. Por incrível que pareça, sabem o que me disse o advogado? Pois amarrem-se em suas cadeiras, ele me disse que nada podia me dizer porque seus dois clientes não o autorizam a dizer coisa alguma. Posteriormente, encaminhou-me uma mensagem que também não define a posição de seus clientes.

É demais. Na minha investigação jornalística sobre o caso, fiquei sem a palavra da dona da cadela, do namorado da dona da cadela, que presenciou a morte do animal, fiquei também, o que acho surpreendente, sem a palavra do próprio advogado.

Como a cadela está morta e não posso entrevistá-la, fico só com a palavra do vigilante. E ela me parece tão forte e tão definitiva, que a parte contrária deve estar à cata de argumentos irreais que possam em vão contraditá-la.

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