sábado, 2 de outubro de 2010



02 de outubro de 2010 | N° 16476
NILSON SOUZA


Abro meus votos

Véspera da eleição e tem gente que ainda não sabe em quem votar. Infelizmente, as urnas eletrônicas não incluem a tecla rejeição, que permitiria ao eleitor indicar os candidatos que não servem para representá-lo de jeito nenhum. Melhor, então, é pensar positivo e selecionar as pessoas que merecem ser votadas – senão para cargos públicos, pelo menos para as vagas afetivas existentes em nossos cérebros e em nossos corações.

O primeiro dos seis votos a que tenho direito vai para minha dentista Margarete, que não é candidata a nada, a não ser ao posto que já ocupa há muito tempo, de profissional competente, sensível e solidária. Voto nela por conta de seu dom de atenuar as dores – e os pavores – de seus pacientes contando histórias curiosas, enquanto trabalha com habilidade entre incisos e molares.

Como a da adolescente que recém havia colado um dente e aceitou a oferta do colega de aula para beber um gole de refrigerante no bico da garrafa. O dente caiu dentro, e ela se viu obrigada a beber todo o líquido para recuperá-lo, diante da estupefação do menino que esperava a devolução.

Dedico o segundo voto a Chico Maratona, meu sósia, com quem cruzo seguidamente nas calçadas de Ipanema. Determinado, ele encara o tempo e as distâncias com sua passada curta e seu exemplo de vencedor. Mal troquei com ele duas ou três palavras, por conta de nossa suposta semelhança física, mas já firmei convicção de que se trata de um sujeito simpático, quase bonito.

Cravo meu próximo voto numa pessoa que não conheço, mas que dedica as horas de seus dias a uma causa meritória e desinteressada: a defesa dos animais. Teresinha Winter é uma guerreira implacável quando se trata de proteger bichos desamparados e de atacar seus agressores humanos. Agora mesmo ela está empenhada em evitar que novas girafas venham da África e tenham aqui o mesmo destino da infeliz Doroteia, que morreu há poucos dias no zoológico, solitária e infeliz.

Já que estou votando em não candidatos, digito aqui um número102 , da norte-americana Ida Wasserman. Ela tem 102 anos e faz musculação diariamente numa academia da Flórida. Começou a se exercitar para acompanhar a filha, que já passou dos 70 anos. E tem jovem que não se mexe.

O quinto voto, dedico-o a um colega de profissão, o diretor de Redação do jornal Extra, do Rio, que, com sua equipe, produziu a capa mais genial da atual cobertura eleitoral. Não vou descrevê-la, pois é fundamental vê-la. Está na internet e as palavras-chaves para googlear são: Extra, Lula, rei, bonito.

Sobrou um voto e ele é o mais importante do meu repertório. Vai para você, leitor/leitora, que me acompanhou pacientemente até aqui. Afinal, também tenho que cuidar do meu eleitorado.

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