Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 16 de outubro de 2010
17 de outubro de 2010 | N° 16491
MOACYR SCLIAR
Negar, não. Ignorar, sim
Muitas pessoas (e as histórias a respeito sempre mencionam as mulheres) costumam mentir sobre sua idade. Explicável, numa época em que a velhice é vista com condescendência para dizer o mínimo. A figura do ancião respeitado, que funcionava como o sábio da comunidade, é coisa do passado.
E isso por várias razões. Em primeiro lugar velhos já não são raros: 10 por cento da população brasileira (que sempre foi considerada jovem) têm mais de 60 anos, o limite clássico da chamada terceira idade.
Antes, chegar à velhice fazia com que a pessoa fosse encarada com respeito: afinal de contas tratava-se de alguém que sobrevivera, que enfrentara com êxito doenças e o desgaste orgânico. Um vitorioso, em suma, e todos queriam ouvir suas palavras, mesmo porque o conhecimento e a sabedoria resultavam, antes de mais nada, da experiência de vida.
Hoje, sabedoria é algo que não tem muito prestígio; prestígio tem a informação, transmitida por uma tecnologia que os jovens dominam com facilidade (e transmitem-na aos pais e avós). Daí os limites etários impostos pelo mercado de trabalho. Depois dos 40, a pessoa está fora de combate (ainda que esta regra já esteja sendo questionada).
Diante desses fatos, não é de admirar a hesitação dos chamados coroas (de onde virá esse apelido? Da calvície ou da majestade?) em declinar sua idade. Frases como “já passei dos trinta”, ou “sou antigo” preenchem, em tom jocoso mas melancólico, a lacuna.
Outras vezes a pessoa entrará numa longa explicação sobre idade cronológica e idade orgânica e/ou psicológica. Uma diferença que, aliás, faz sentido. Isso não significa mentir a idade ou recorrer a respostas evasivas. Nem significa tomar essa idade como um veredicto.
Aqui entra uma importante diferença, entre negar e ignorar. Negar a realidade é uma fuga. Ignorar não é negar; é simplesmente não tomar conhecimento. Tomem o exemplo das pessoas que viajam de avião.
Existem aqueles que pensam constantemente no fato de estar a dez mil metros de altura, dentro de uma estrutura metálica que depende das turbinas para se manter no ar. É verdade, isso? É. É verdade que problemas podem ocorrer? É. Não temos como negar isso.
Mas, por outro lado, não precisamos recordar essas coisas a cada instante, o que transformaria a viagem num pesadelo. Podemos, ainda que provisoriamente, ignorá-las. E isso, turbulências à parte, nos permite uma viagem tranquila.
Da mesma maneira, não precisamos, e não devemos, negar nossa idade. Mas também não precisamos, e não devemos, pensar a todo instante em nossos 58, ou 64, ou 75 anos. Trata-se de um pensamento contraproducente. Precisamos, sim, pensar em nossas vidas, nas coisas boas que fazemos ou que podemos fazer, no trabalho, na convivência com a família, nas diversões, nos nossos sonhos. Sonhos, sim. Sonhar não é impróprio para maiores de idade.
A negação é um dos clássicos mecanismos de defesa psicológica e é vista em geral com condescendência, quando não com alarme. A pessoa que nega a possibilidade de ficar doente, que não faz os exames necessários, corre perigo. A pessoa sensata não ficará pensando obsessivamente nas enfermidades, mas procurará o médico periodicamente, ignorando os inconvenientes que a isso possam estar associados.
Os anos que temos são, em última análise, números. Quantificam a vida, mas de forma rudimentar. Há outras formas, muito mais satisfatórias, de avaliar a nossa existência. E estas, sim, não devem ser negadas.
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