terça-feira, 5 de outubro de 2010



05 de outubro de 2010 | N° 16479
PAULO SANT’ANA


Levantem a cabeça!

Não vou cumprimentar todos os eleitos em todos os níveis, eles já foram vivamente cumprimentados.

Eu hoje tenho uma palavra para os que perderam as eleições para deputado estadual e federal, senador e governador.

Já perdi duas eleições, para deputado e para vereador, por isso sei o que é a dor desse tipo de tropeço: parece que a vida terminou, que nada tem mais graça, em alguns casos a vontade que se tem é de suicídio.

Mas isso passa. É duro suportar uma perda desse tamanho. Os perdedores nessas eleições de anteontem têm toda a razão para estarem inconsoláveis.

Mas eu estou aqui para consolá-los.

O melhor consolo para quem perde uma eleição e tenha jogado o que lhe parecia ser toda a sua vida nela é uma parte do poema “Se”, de Rudyard Kipling, tradução de Guilherme de Almeida:

Se és capaz de manter a tua calma quando

Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

De crer em ti quando estão todos duvidando,

E para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de arriscar numa única parada

Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,

E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,

Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo

A dar seja o que for que neles ainda existe,

E a persistir assim quando, exaustos, contudo

Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz disso,

Tua é a Terra com tudo que existe no mundo

E – o que é mais – tu serás um homem, ó meu filho!

Grande poema. Agora escreve o colunista, não o poeta: é verdade, se és capaz de perder uma eleição e o chão do mundo desabar a teus pés, se és capaz, depois de te fazerem os fatos crer que irias ganhar, se a abertura das urnas e o decorrer da apuração foram se tornando um punhal que ingressava na tua carne à medida que eram contados os votos, se és capaz, depois dessa derrota inominável, ainda assim te reergueres e seres doravante útil, necessário e imprescindível para a tua própria vida e para a vida dos outros, então é porque és um verdadeiro homem e de ti é feita a terra e seus sumos e mereces a contemplação de teu Deus.

Essas palavras escritas por Rudyard Kipling e por este colunista servem para todos os candidatos que perderam na eleição de domingo. Serve principalmente para Luciana Genro, para Afonso Motta, para Tarciso, o Flecha Negra, para Germano Rigotto, enfim para todos os que honrada e dignamente perderam.

Eu os cumprimento daqui pela coragem com que se atiraram à luta e digo-lhes somente, se isso pode servir-lhes de consolo, que “a vida é luta renhida, é duro combate, que aos fracos abate e aos fortes e bravos só pode exaltar”.

Não “podemo se entregá pros home”.

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