terça-feira, 19 de outubro de 2010



19 de outubro de 2010 | N° 16493
PAULO SANT’ANA


Gesto de grandeza

Há que se reconhecer que o gesto do vereador Nelcir Tessaro (PTB) ao solicitar ao prefeito Fortunati que vete o projeto de sua autoria que mudaria o nome do Hospital de Pronto Socorro é uma atitude de grandeza.

Ele sentiu que sua proposta pegou mal. Afirma o vereador que seu pedido de veto ao prefeito é “para o bem da imprensa”.

Nesse ponto, o vereador maneja com um ardil: ele sabe que seu projeto foi recusado pela opinião pública, além de ter sido maldito pela classe médica e pela totalidade dos funcionários do HPS.

E afirma que recua de seu propósito por pressão da imprensa.

Nada disso, a imprensa apenas foi veículo da aversão que o projeto causou na maioria esmagadora da opinião pública.

Ou acaso pensa o vereador que este colunista teria coragem de escrever aquela coluna, em que me posicionei energicamente contra o projeto, se não tivesse respaldo total dos porto-alegrenses? Eu não escreveria sequer uma linha daquela coluna firme e crítica se não tivesse me baseado em uma verdadeira revolta havida em vários setores populares.

Só depois que soube da revolta popular contra o projeto é que lasquei fogo na coluna.

E, a bem da verdade, quero dizer que a revolta popular casou com a minha revolta.

Porque, se houver um clamor público contra determinada questão e eu não concordar com este clamor público, no mínimo silenciarei. Embora muitas vezes esta coluna tenha se jogado contra determinado clamor público ou clamor de setores públicos, como exemplifico a seguir:

1) Grande parte da opinião pública queria o desarmamento e esta coluna ergueu-se, modéstia à parte, corajosamente, contra o desarmamento;

2) Havia e há um grande assanhamento popular em favor da realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014, inclusive com gremistas querendo se favorecer das pretensas dificuldades financeiras do Internacional e pretendendo levar os jogos da Copa para a Nova Arena. Esta coluna se manifestou clara e energicamente contra a realização da Copa no Brasil e em Porto Alegre. E houve grande repercussão dessa posição da coluna;

3) Durante muitos anos, quando mais de 90% da população brasileira era a favor da pena de morte, esta coluna se manifestava quase todos os dias contra a pena de morte. Só bem mais tarde, esta coluna passou a ser a favor da pena de morte, desde que não reste a mínima dúvida, absolutamente a mínima dúvida entre os juízes ou os jurados, da culpabilidade dos réus por crime hediondo.

E tantos são os outros exemplos desta coluna enfrentando a voracidade da opinião pública.

Mas, no caso da mudança do nome do Pronto Socorro, esta coluna nada mais fez do que montar no cavalo da opinião pública, que vinha passando completamente encilhado e contrário à mexida no nome do hospital.

Esqueci-me de arrolar acima o fato de esta coluna, durante 38 anos, na maioria desse tempo solitária, ter-se manifestado pela construção de presídios decentes para os detentos gaúchos, quando recebi milhares de e-mails que me xingavam por eu estar pregando mordomia para os presos enquanto suas vítimas eram levadas aos cemitérios.

E, sob o silêncio sepulcral da sociedade gaúcha, testemunhem os gaúchos, silêncio só quebrado nos últimos 18 meses, contra tudo e contra todos, esta coluna bradou em quase quatro décadas que quanto piores forem os presídios, piores serão as condições de segurança nas ruas.

É preciso ter cabelo no peito para sustentar uma coluna assim tão audaciosa.

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