quarta-feira, 6 de outubro de 2010



06 de outubro de 2010 | N° 16480
PAULO SANT’ANA


A minha gastança

Hoje à noite, serão distribuídos espetacularmente entre os apostadores R$ 115 milhões da Mega Sena.

Sou obrigado a dizer que é um prêmio exagerado, uma coisa é uma fortuna, mas esse prêmio de hoje é uma megafortuna, algo impensável para uma pessoa gastar em apenas uma vida.

Por falar nisso, eu antes não sabia o que fazer com um dinheiro desses, caso viesse a ganhá-lo. Agora já sei: eu o gastaria inteiramente ao cabo de três anos.

Eu me divertiria gastando, praticamente jogando fora essa fortuna.

Gastar, gastar, gastar, deve ser uma grande atração, uma extraordinária aventura.

Sair todos os dias, exatamente todos os dias, com um carro novo e diferente da garagem, comprar lanchas e casas novas em ilhas, dar gorjetas nas esquinas, cada uma de R$ 1 mil. Imaginem a cara dos mendigos recebendo R$ 1 mil, ou seja, uma Mega Sena para eles.

Ah, eu daria por dia 200 vezes R$ 1 mil aos pedintes.

Gastar, gastar, gastar!

Todo parente direto ou distante ganharia de mim uma casa. Mesmo que já tivesse casa. Mais uma casa.

Deu a louca em mim, eu gastaria tudo. Iria, por exemplo, até uma casa de venda de carne de gado da raça angus que tem ali na Nilo Peçanha e compraria mil quilos de picanha, maminha e fraldinha. E distribuiria tudo nas vilas populares: o populacho comendo carne de rico, que maravilha!

Chegaria num desses grandes magazines e encomendaria para daqui a cinco dias mil bicicletas. E as distribuiria entre as crianças pobres dos arrabaldes.

Mil quilos de batatas, mil calcinhas íntimas de mulheres, mil sacos de laranjas, mil sabonetes, mil Coca-Colas zero e mil Coca-Colas tradicionais, mil alianças de ouro para distribuir aos namorados para que noivem, mil casas populares para distribuir entre os casados infelizes para que ousem separar-se.

Ia ser uma coisa de louco. Eu faria loucuras para que a Caixa Econômica Federal nunca mais ousasse distribuir um prêmio louco desses.

Arranjaria bandas e fanfarras para me receber nas vilas, antecedendo meus donativos: “Atenção, povo da Vila Safira, chegou Paulo Sant’Ana, o Pai dos Pobres, divirtam-se, empanturrem-se e se locupletem, há aqui mil barris de chope para comemorar essa farra da Mega Sena santanística”, gritariam os alto-falantes.

Em menos de um ano, eu gastaria toda essa fortuna. Mas antes guardava ainda uns R$ 100 mil para fazer um bolão e apostar numa outra Mega Sena. Quem sabe acertar duas sem tirar de dentro!

Alguns dos derrotados na eleição do último domingo me mandaram mensagens de agradecimento pelo conforto que lhes dei na coluna de ontem.

Foi o caso do sempre fidalgo Germano Rigotto e da Mônica Leal, que mandaram dizer que valeu a pena a derrota para lerem as minhas palavras de consolação.

E foi o caso de Tarciso, o Flecha Negra do Grêmio, que ressaltou minha definição de que para os derrotados a apuração dos votos era como “um punhal entrando pela carne”.

Os três mandaram dizer que eu os encorajei a continuar vivendo e lutando.

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