sábado, 2 de outubro de 2010



03 de outubro de 2010 | N° 16477
PAULO SANT’ANA


A campanha

A RBS está publicando em rádio, jornal e televisão um anúncio institucional em que afirma que, se um seu colunista tem opinião contrária à do editorial do jornal (ou da rádio ou da televisão), a empresa toma uma providência: publica a coluna.

No anúncio do rádio e da televisão, aparece a minha voz, gritando: “Sou contra a realização da Copa do Mundo no Brasil”. Enquanto que ao mesmo tempo a RBS se manifestava em editorial favorável à realização da Copa no Brasil.

É assim também quanto às pesquisas eleitorais: sou radicalmente contrário a elas, a RBS é a favor.

Não raro, minhas opiniões se chocam com a da minha empresa e muitas vezes temos opiniões coincidentes.

Mas me sinto confortavelmente instalado na RBS nesse aspecto: nunca sofro pressão para aderir às opiniões da empresa.

Pelo contrário, frequentemente tento, sem sucesso, convencer os dirigentes da RBS de que estou certo em algumas opiniões e que eles erram em pensar o contrário de mim.

Salutar convívio este nosso. Embora eu faça parte dessa têmpera editorial da empresa, como colunista, não misturo minhas opiniões com as opiniões da empresa.

E, por fim, acabamos, eu e a empresa, nos tornando independentes um do outro na opinião.

Vi incrédulo transcorrer o debate entre os presidenciáveis na Rede Globo: em nenhum momento, Dilma Rousseff e José Serra, os principais oponentes da luta eleitoral, interrogaram um ao outro, quando a sistemática do debate proporcionou a ambos, várias vezes, aquela oportunidade.

Medo puro um do outro. Medo de quê? Suponho que Dilma com medo de dar vez a que Serra brilhasse no confronto contra ela. Ainda assim, uma razão fraquíssima.

E, Serra, de que tinha medo? Se tudo de que ele precisava para descontar a diferença que o separa de Dilma nas pesquisas era justamente aquele instante, em que ele haveria de ser enérgico contra Dilma, tendo a oportunidade, assim, de, na fricção epidérmica, tirar pontos da adversária.

Uma decepção que os dois tivessem se encaramujado.

Marina Silva não foi mal, mas também foi aquém da expectativa. Porque inexplicavelmente aderiu a Dilma em duas ou três teses discutíveis, demonstrando que ainda bate no seu peito um coração petista.

Restou para mim, que não assisti a nenhum dos outros debates, a surpresa do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio: foi forte, firme, agudo em suas teses radicais, pediu o calote da dívida, disse que ali estavam três expoentes das classes dominantes e ele restava sozinho como única esperança dos dominados.

Foi um debate desolador sob o ponto de vista das omissões lamentáveis de Serra, Dilma e Marina.

Só o nervosismo não basta para explicar aquele mingau gélido servido pelos debatedores aos ávidos telespectadores.

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