sábado, 16 de outubro de 2010



16 de outubro de 2010 | N° 16490
PAULO SANT’ANA


Hermafroditismo nominal

Querem mudar o nome do Hospital de Pronto Socorro para Hospital Eliseu Santos, em homenagem ao ex-secretário da Saúde que foi assassinado algum tempo atrás.

É uma truculência. A iniciativa parte do interior da Câmara de Vereadores, mas quero acreditar que nem lá mesmo irá prosperar essa asneira. Os outros vereadores haverão de rechaçar esse imenso despropósito.

Seria o mesmo que a estapafúrdia proposta de mudar o nome de Santa Casa de Misericórdia para Hospital Fulano de Tal.

Seria o mesmo que mudar o nome do Hospital de Clínicas de Porto Alegre para Hospital Sicrano de Tal.

Uma monstruosidade.

O saudoso Dr. Luiz Sarmento Barata ergueu este Hospital de Pronto Socorro que nos dá tanto orgulho.

Por três vezes, quiseram denominar de Sarmento Barata o HPS. O próprio Dr. Barata, então vivo, repudiou energicamente a iniciativa.

E, agora, um vereador propõe mudar o nome do HPS. Um verdadeiro estrupício.

Os funcionários do HPS, desde que souberam da sinistra intenção, entraram em regime de alerta geral, movidos por revolta.

É preciso que hoje, se já o não fez ontem, o autor da repelente proposta a retire sem nenhuma solenidade, apenas com a vergonha de ter tido tal infeliz ideia.

O que é preciso que ele saiba é que HPS é uma logomarca, uma protomarca imexível, assim como o é, para pinçar entre inúmeros exemplos, o Banco de Olhos.

O que o trágico vereador proponente necessita saber é que, mesmo que o nome que ele pretende dar ao HPS fosse outro, de um mais ilustre porto-alegrense, gaúcho ou brasileiro que o do Dr. Eliseu dos Santos, ainda assim seria ridícula e infundada a sua iniciativa.

Não se discute então a altura do vulto do Dr. Eliseu. Discute-se, isso sim, a altura do nome e do vulto do Hospital de Pronto Socorro, que é inalcançável por qualquer mudançazinha legisferante.

Preciso ser enérgico contra esse projeto, desculpem os leitores a virulência das minhas palavras: esse vereador tem de pôr essa sua proposta no lixo.

O vereador merece esta linguagem porque ele usou de um atrevimento indisfarçável: o de tentar molestar uma das entidades sagradas dos gaúchos, o HPS. Ninguém consegue escapar incólume ou ileso dessa horrenda iconoclastia.

Não me escapa que o povo, mesmo que se mudasse o nome do HPS, iria continuar chamando-o de HPS.

Mas eu quero evitar confusão, como por exemplo o da dupla identidade do nosso parque mais famoso: Redenção ou Farroupilha?

Maracanã ou Mário Filho? Beira-Rio ou José Pinheiro Borda. Rua dos Andradas ou Rua da Praia?

Vale a pena lutar contra qualquer dicotomia confusionista. E o HPS já é uma sigla gravada na alma de quem precisa de socorro.

Mas eu tenho uma razão maior para não se mudar o nome do HPS. É que, se eu fosse vítima de um acidente de trânsito e estivesse ferido gravemente mas ainda lúcido, eu dissesse aos socorristas: “Levem-me imediatamente ao Eliseu Santos”.

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