sábado, 30 de outubro de 2010



31 de outubro de 2010 | N° 16505
PAULO SANT’ANA


Os juízes

Estiveram aqui na Redação as juízas de Direito Jane Vidal e Dulce, esta de uma das varas de família, junto com o juiz Afif Simões Neto.

Vieram me convidar para o lançamento de um livro compilado pela Ajuris, no qual figuram muitas crônicas escritas por magistrados e por jornalistas e escritores, entre as quais aquela minha célebre sobre os meus amigos.

O lançamento será na terça-feira, dia 2 de novembro, no Memorial do RS, na Feira do Livro, às 20h.

Ficaram estupefatos com o fato de que era uma sexta-feira e eu, na mesma tarde, era obrigado a escrever as crônicas de sábado e domingo, coisa de três ou quatro horas.

– Que é isso – disse-lhes eu – para quem já escreveu 16 mil crônicas em 38 anos de Zero Hora?

Existe um magnetismo entre mim e a magistratura. Deve ser porque em meus escritos abundam respeitosas reverências que faço aos homens e mulheres que têm a tarefa de julgar os seus concidadãos.

Eu vivo repetindo que não queria ser juiz. Longe de mim a façanha espinhosa de ter de julgar os outros, dando magicamente ganho de causa a uns e perda de causa a outros.

Longe de mim! E, no caso dos juízes penais, que dilema deve ser decidir que um homem com família deve ir para detrás das grades.

Deve ser lancinante tanto condenar quanto absolver. Não ter certeza sobre a inocência ou culpabilidade de alguém tem de ser uma das experiências mais amargas por que se debruçam os juízes.

E tantas outras experiências curiosas e exasperantes dos juízes. Como a de exercer controle sensorial sobre os depoimentos das testemunhas, baseando muitas vezes a sentença nesse colóquio: avaliar se uma testemunha está sendo sincera ou hipócrita ou industriada ou simplesmente equivocada.

Fazer justiça, eis uma das tarefas mais cruciais entre todas as que foram designadas aos humanos.

E chego a me arrepiar diante da hipótese plausível de que no meio desse processo todo se façam injustiças.

Mas é que não encontramos outro meio mais eficaz de distribuição de justiça que não seja este: homens julgando homens, quando o ideal seria que fôssemos julgados exclusivamente por Deus.

Mas o homem tem pressa e não quer esperar por Deus para obter justiça.

Então, se convencionou que todos acorrem aos pretórios para tentar conseguir justiça.

E os que vão às barras da Justiça devem estar preparados para ganhar ou para perder, isso é o que dói, o que punge, o que devora.

Ganhar na Justiça é um dos maiores trunfos da raça humana. Perder na Justiça é uma das maiores quedas entre os homens.

Já escrevi aqui que, no dia em que eu tiver de ser julgado, não quero que me julgue um juiz bom e generoso. E não temeria que me julgasse um juiz implacável e impiedoso.

A única coisa por que anseio, no dia que tiver de ser julgado, é por um juiz justo.

E, se ele for justo, há de punir-me com severidade ou absolver-me com justeza.

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