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sábado, 23 de outubro de 2010
24 de outubro de 2010 | N° 16498
MOACYR SCLIAR
O casal em viagem
No avião em que voltamos de Paris, viajava, atrás de nós, um jovem casal. Que batia boca ferozmente. Não cheguei a descobrir por que discutiam tanto, mas a cena lembrou-me do comentário de uma amiga que uma vez me disse algo surpreendente. Em viagem, marido e mulher sempre brigam, garantiu ela.
Claro, não estava falando de nenhum estudo científico, comparando o número de brigas de casais viajantes com as brigas de casais que são, digamos, mais sedentários, menos móveis. Mas havia certa lógica no comentário, esta mesma lógica que se esconde atrás dos provérbios, dos ditos populares, uma lógica resultante da experiência e até mesmo de uma certa sabedoria.
Vamos, pois, admitir que os casais realmente brigam em viagem. A pergunta é: por que aconteceria isso?
Por várias razões. Em primeiro lugar, a viagem sempre envolve ansiedade, sobretudo a viagem para o Exterior. É outro país, outra língua, outra moeda, outros costumes. Por mais programado que o turismo seja hoje em dia, por mais apoio que os turistas recebam, sempre há um grau de imprevisibilidade, de inesperado. Paris, aliás, está sendo disso um exemplo. Neste momento, há protestos contra a reforma da previdência, que obrigará os franceses a trabalhar mais tempo.
Os sindicatos agiram. Resultado: voos cancelados, trens atrasados, falta de combustível. Os turistas ficam apreensivos, nervosos, mas vão reclamar para quem? Para o cônjuge, claro: “Eu te disse que a gente não deveria ter vindo, que essa viagem seria só incomodação...”.
Mas mesmo que não haja protesto, mesmo que as coisas funcionem bem, há uma outra fonte potencial de conflito. No cotidiano, marido e mulher se despedem de manhã, saem para suas atividades e se reencontram à noite. Na viagem, a convivência é de 24 horas por dia.
E implica, além de partilhar o hotel (que é, afinal de contas, um cenário desconhecido), visitar lugares históricos, museus, exposições, ir ao teatro, a espetáculos, a restaurantes, tudo isso exigindo escolhas, opções. De repente, o casal descobre suas diferenças de gostos. Ou de critérios: uma blusa que, para a esposa pode ser barata, para o marido custa uma fortuna. E aí a discussão, perto da qual qualquer campanha política é fichinha.
Mas tudo isso felizmente não é nada diante dos momentos de emoção e de alegria que resultam da descoberta. Descoberta, sim, esse é o grande mote da viagem. Descobrir outros países, outras culturas, outras vivências. E, no caso do casal, descobrir-se mutuamente. O que, às vezes, pode ser arrebatador.
No meio de uma loja enorme, marido e mulher de repente se perdem, e aí é aquele susto: e agora, o que fazer? Seguem-se momentos de aflição, mas de repente se avistam, se reconhecem naquela multidão de pessoas estranhas, correm um para o outros, às vezes até se abraçam, indiferentes ao irônico sorriso dos nativos.
A viagem é feita de encontros. A vida também. Uma briguinha de vez em quando não atrapalha. Ao contrário dá sabor à aventura.
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