quinta-feira, 21 de outubro de 2010



21 de outubro de 2010 | N° 16495
PAULO SANT’ANA


Animais no (e do) trânsito

Meus amigos, um motorista de caminhão atropelou anteontem duas ou três galinhas lá na cidade de São Valentim, norte do Estado, causando um forrobodó danado: meu blog encheu-se de recados aplaudindo a promotora pública que deteve o motorista e grande número de internautas criticou a promotora.

Já falei isso no programa do Macedo ontem e vou repetir: eu simpatizei com a atitude da promotora. Por um simples motivo: fica assim alertada a opinião pública de que todos os motoristas têm a obrigação moral e legal de munirem-se de cuidados para com todos os seres vivos, não só as pessoas como as galinhas.

E, se devem ter cuidados para não atropelar as galinhas, como a ação da promotora prega, mais cuidado devem ter ainda com as vidas humanas, que são milhares os atropelamentos de humanos que se verificam todos os dias em nossas ruas e estradas.

E fiz uma pergunta ontem cedinho da manhã na Gaúcha: se o motorista tivesse atropelado ratos ou cobras, a promotora teria tido a mesma exação em detê-lo?

Pode ser que eu me engane, mas eu acho que a lei ambiental protege até mesmo os animais nocivos. Pelo princípio de preservação das espécies, aquele mesmo que não permite que se saia por aí a exterminar os pitbulls e os rottweilers só porque eles atacam velhinhos e criancinhas, trucidando-os.

E tenho outra pergunta bem-humorada a respeito do atropelamento das galinhas em São Valentim: a promotora de Justiça teria de usar de ainda maior rigor com o motorista se ele tivesse atropelado as galinhas na faixa de segurança?

E o Moisés Mendes, aqui do meu lado, brincou mais fundo ainda: em Erechim, ao atravessar a faixa de segurança, as galinhas têm o cuidado, antes, de levantar a asa direita.

Esta minha preocupação com as faixas de segurança para animais pode soar ridícula, mas não é: na estrada que passa pelo Banhado do Taim, há avisos de trânsito bem claros que pedem para os motoristas terem cuidado ao dirigir por ali porque muitos mamíferos e aves cruzam a pista a todo momento e são esmigalhados pelos veículos.

Quem já passou pelo banhado do Taim, antes de chegar ao Chuí, cansa de ver os esqueletos das capivaras estendidos nas pistas, elas foram atropeladas por carros ou caminhões.

Há até um sinal de trânsito específico para esse aspecto, que quer dizer: “Animais na pista”.

Então fica claro que a legislação visa a proteger os animais no trânsito.

E visa também a execrar os “animais do trânsito”, aqueles motoristas que pisam no acelerador e ignoram o respeito aos seres vivos.

Uma outra indagação exótica minha: se um homem vem atravessando uma faixa de segurança, segurando quatro galinhas, duas em cada mão, e é atingido por um carro, verificou-se uma simples infração de trânsito ou, em face das galinhas, ficou tipificado também um delito ambiental?

Mas todo este imbróglio quer dizer no final um só princípio, por isso é que apoiei a promotora: “Vamos respeitar os animais”.

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