sábado, 30 de outubro de 2010



30 de outubro de 2010 | N° 1650
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Mitos e lendas no Rio Grande

O que são mitos? O que são lendas? Por que o povo conta lendas e mitos?

Essas perguntas não são especiosas, ou gratuitas. Bem ao contrário: mitos e lendas são parte importante do folclore de um povo e estudá-los é fundamental para o aprofundamento na alma popular. Ninguém conhecerá um grupo social em profundidade sem intimar o seu folclore. Estudar mitos e lendas, portanto, é fundamental.

O folclore é aquela cultura espontânea, não oficial, dita erudita, ou escolástica. Trata-se de um complexo cultural altamente efetivo que se entranha em nós com tamanha naturalidade que não nos damos conta de sua força, a não ser quando tomamos deliberadamente consciência de sua presença.

O folclore nos confere um caráter político, nacional e regional, vai sem dizer. Em muitos países o folclore foi fundamental para resistir à devastação de sua cultura pelos vencedores da guerra. Nesse sentido, o exemplo do Japão após a II Guerra Mundial é bem expressivo.

Os mitos e as lendas são a história do país (expressão aqui tomada em seu verdadeiro sentido) contada pelo seu povo. Enquanto o mito é universal, a lenda é local. O mito é atemporal, a lenda se localiza no tempo obrigatoriamente.

Se o folclore é dinâmico, funcional, pragmático, utilitário mesmo, e o povo descarta prontamente o fato folclórico que perde sua função, então é evidente, até pela permanência na memória de seu povo, que os mitos e lendas cumprem um papel que insta a identificar e valorizar.

O povo conta mitos e lendas para fazer a sua autobiografia, para relatar as suas memórias. Trata-se de uma profunda e urgente necessidade de explicar-se. Os mitos e as lendas são, assim, um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo. É como se estivesse diante do espelho. Trata-se, a rigor, de uma confissão, e a igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que a psicanálise inventasse o divã do analista.

Depor sobre nós mesmo é catártico, e o folclore tem a vantagem sobre a mera profissão de ser sempre coletivo. Dá explicações, diz porquês, exorciza fantasmas. Um banco forrado de pelego numa roda de mate será sempre mais eficaz do que uma terapia em grupo em matéria de resolver os escaninhos da mente popular, embora o folclore esteja mais próximo de Jung do que de Freud.

Aliás, Arthur Ramos, em seus Estudos de Folk-lore, já teorizava o Inconsciente Folclórico a partir do inconsciente coletivo junguiano.

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