quarta-feira, 20 de outubro de 2010



20 de outubro de 2010 | N° 16494
PAULO SANT’ANA


Dilma x Serra

Interessante é que na minha caixa de correspondência aparece sempre uma turma atenta para os meus erros. Eles parecem estar de prontidão, basta que eu dê uma rateada para que me cobrem prontamente.

A turminha que me vigia chega ao ponto até de se apressar e me criticar por erro que não cometi. Por exemplo, dia 3 de outubro ficou acertado que haverá segundo turno entre Dilma e Serra.

Bastou isso para que a turminha brava tivesse enchido minha caixa de e-mails alegando que eu havia previsto que Dilma ganharia no primeiro turno.

E não foi nada disso: eu nunca previ que Dilma ganharia no primeiro turno. Aconteceu o seguinte: irritado com algumas pessoas que não gostaram que eu tivesse previsto que Dilma seria a nova presidente do Brasil, eu cheguei a escrever que “daqui a pouco vão me irritar e eu vou prever que Dilma ganhará já no primeiro turno”, tão grande era a diferença entre a candidata do PT e Serra.

Mas não previ que Dilma iria ganhar no primeiro turno. O que previ é que Dilma seria eleita presidenta do Brasil. E minha previsão está de pé como nunca. Há muitas e muitas pesquisas que Dilma lidera em votos.

Esses dias, andou preteando o olho da gateada, a diferença a favor de Dilma era pequena e o instituto declarou que, em face da margem de erro, os dois candidatos estavam empatados.

Mas logo veio outra pesquisa de outro instituto que deu uma diferença larga de Dilma sobre Serra, 14 pontos.

Se algum mérito teve minha previsão de que Dilma será a sucessora de Lula, foi o de que, quando previ, Dilma estava muito atrás de Serra, mais de 15 pontos de diferença, lá no início da campanha, lembram?

Resolvi, então, raciocinar com meus leitores: se a popularidade de Lula vinha crescendo a níveis inimagináveis, justo era concluir que o prestígio de Lula iria se transferir em massa para Dilma na eleição e ela ganharia a parada.

Se exigirem que eu mantenha minha previsão, faço-o: agora fica mais fácil, Dilma está na frente, eu queria ver prever que ela ganharia quando estava lá atrás, distante de Serra, que foi o que fiz.

Mas a turminha dos que anotam as previsões erradas está ativa, aguardando que Serra ganhe a eleição para bradar que eu me enganei na minha previsão.

Tem gente que tem tanta obsessão por ver os outros se quebrarem, que, mesmo votando em Dilma, quer que ela perca só para ver “a cara do Sant’Ana”.

Esses dias, eu me ferrei redondamente. Como raramente acontece nesta coluna, cometi um grave erro de português: escrevi e saiu no jornal a palavra legisferante, quando o certo é legiferante. Legiferar quer dizer impor ou baixar leis.

Fiquei envergonhado do meu erro. A gente que trabalha exclusivamente com palavras tem a obrigação de manejar a língua com exatidão.

Mas, enfim, errar é humano. E no caso desta coluna felizmente que é infrequente.

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