Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
13 de outubro de 2010 | N° 16487
DAVID COIMBRA
A mulher mais linda da cidade
Qual é a mulher mais linda que você já viu?
Que reação ela despertou em você, quando seus olhos espantados a avistaram pela primeira vez?
Dom Pedro I, nosso imperador herói, depois da morte da mulher dele, Dona Leopoldina, infausto ocorrido sobre o qual escrevi semana passada aqui mesmo, neste nobre espaço, aliás sob inspiração do ótimo “1822”, de Laurentino Gomes, pois Pedro I, tornado viúvo, empenhou-se em contrair novo matrimônio, que matrimônio se contrai feito sarampo.
No caso de um imperador, o casamento fazia-se mister por motivos políticos. Dom Pedro encarregou um fidalgo de confiança, o marquês de Barbacena, para viajar à Europa e lá encontrar uma princesa para ele. Não se tratava de tarefa fácil. O mundo inteiro sabia que Dom Pedro havia maltratado a finada Leopoldina. Nenhuma princesa o queria. Nada menos do que 10 recusaram suas propostas. Abatido, o imperador fez a seguinte recomendação ao marquês:
– O meu desejo, e grande fim, é obter uma princesa que por seu nascimento, formosura, virtude e instrução venha a fazer a minha felicidade e a do império. Quando não seja possível reunir as quatro condições, podereis admitir alguma diminuição na primeira e na quarta, contanto que a segunda e a terceira sejam constantes.
Ou seja: a futura esposa de Dom Pedro podia ser plebeia e burra, desde que fosse fiel e bonita, o que demonstra a inteligência privilegiada do imperador.
O marquês foi competente. Conseguiu convencer a franco-italianinha Amélia a casar-se com o soberano brasileiro. Essa Amélia era neta de ninguém menos do que Josefina, ex-mulher de Napoleão Bonaparte. Era esperta. E, na fresca exuberância de seus 17 anos, era linda. Quando desembarcou no Rio de Janeiro, usando um vestido cor-de-rosa rendado, Dom Pedro ficou tão emocionado com o que viu que desmaiou no convés do navio. O homem desmaiou!
Alguma vez você já sentiu emoção semelhante?
Como reagiu quando viu a mulher mais linda da sua vida?
Que efeitos a beleza produz em você? Não poucos, decerto que não. Mas nós, brasileiros, subestimamos o valor das coisas belas. Consideramos a beleza supérflua. Um luxo. Não é luxo. Às vezes, é artigo de primeira necessidade. Por isso, defendo: quando for erguida a Arena do Grêmio, quando for reformado o Beira-Rio, que não se pense só na grandeza e na funcionalidade. Que se compreenda que, como dizia Vinícius, beleza é fundamental.
Vida de gado
Vaca, para gaúcho, há de vir em forma de bife. Compreendo isso, faz parte da tradição carnívora do Pampa. O que não compreendo é a sanha porto-alegrense contra as joviais vaquinhas de fibra de vidro que enfeitam a cidade desde a semana passada. Cinco já foram depredadas em menos de cinco dias.
Outras serão, tenho certeza. Devem estar sendo agora mesmo. Posso ver os garotos com a aba do boné virada para trás divertindo-se ao incendiar uma peça durante a noite.
A depredação de equipamentos da cidade, a pichação de paredes e monumentos, a sujeira das ruas e a tosca oposição a qualquer iniciativa um pouco menos convencional do poder público são algumas das marcas de Porto Alegre.
Sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra.
E não venham argumentar que em outras cidades também houve ataque às peças da Cow Parade. Houve, mas em Porto Alegre há mais pichação, mais sujeira, mais depredação e, acredite, ao cabo da mostra haverá mais vaquinhas danificadas. Além disso, ao que saiba, nenhuma das outras cidades se gaba das suas “façanhas”.
Mas existe esperança. Porto Alegre é a cidade da Feira do Livro e do Em Cena, não cesso de lembrar. E, no feriado de sol, as mesmas vaquinhas que foram mutiladas à noite serviam de montaria para as crianças, de modelo fotográfico para as famílias, de orgulho para o cidadão que pode ser chamado de cidadão.
Existe uma força criativa nesta cidade. Há quem não pense apenas em destruir, em tirar vantagem, em ter sem merecer. A prova é a Dupla Gre-Nal. Grêmio e Inter são maiores do que o Rio Grande do Sul.
Esse Estado doente de males crônicos, como o ranço ideológico que transforma discordantes em inimigos; esse Estado periférico, cada vez menos relevante na economia do país; esse Estado de uma elite sem ousadia e de um povo sem educação; esse Estado precário avulta-se no futebol. Grêmio e Inter redimem o Rio Grande do Sul.
Poderiam servir de modelo à terra.
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