sábado, 9 de outubro de 2010


FERNANDO DE BARROS E SILVA

Marina contra o "ecobusiness"

SÃO PAULO - "Não adianta ficar com conversinha de século 21, sustentabilidade, meio ambiente e não sei o quê sem ter algo concreto para a população". A frase não saiu da boca de nenhum empreiteiro apressado, ninguém da bancada ruralista. Quem disse isso, em entrevista à Folha de ontem, foi Marcos Belizário, membro do PV, secretário na gestão de Gilberto Kassab (DEM).

Ele mesmo diz ser "um cara prático". Nada de conversinha. O PV que ele representa é aquele que se apropria do prestígio internacional e do apelo "ecumênico" da causa verde como fachada para legitimar práticas políticas paroquiais e viciadas. A energia que alimenta esse PV é a fisiologia autossustentável.

Há no partido, é claro, no Rio em particular, quadros qualificados e empenhados em dotar o PV de uma espinha dorsal programática: Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira, Aspásia Camargo estão entre eles.

Belizário pertence à turma liderada por José Luiz Penna, outro "cara prático". Penna já era presidente do PV quando, em 2008, a Folha revelou o escândalo das notas fiscais fantasmas: o partido criou numa cidade do interior paulista mais de 600 empresas fictícias (muitas delas com endereço num lago, em "homenagem à natureza") para esquentar o destino do dinheiro do fundo partidário: em torno de R$ 800 mil. O caso ainda está no TSE.

É essa turma do PV, todos "do bem", que quer se acertar logo com a candidatura José Serra. No pior cenário, negociam vantagens no governo Alckmin. Ao tomar ciência de que a barganha ia solta, Marina Silva ironizou tanto apetite: "Quatro ministérios para o PV... Caramba! Do jeito que tem gente aí, basta pensar num conselho de estatal".

O fato é que Marina deu ao PV uma projeção que o partido jamais teve no Brasil. Deu também uma chance histórica ao partido, que já está indo pelo ralo. Marina tem razões pessoais e políticas, ancoradas em valores, para não apoiar nem Dilma nem Serra agora. As do PV são como Belizário -bem práticas.

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