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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
06 de outubro de 2010 | N° 16480
DIANA CORSO
O benefício da dúvida
As revistas de divulgação científica andam preocupadas com nosso sucesso. Ou melhor, nós é que andamos obcecados com o assunto e provocamos o sucesso dessas pautas. Numa delas (Mente & Cérebro), um artigo defende uma posição interessante: explica que para chegar “lá” é preciso ter foco, mas também é necessário de certa forma perdê-lo.
Trata-se de um estudo no qual dois grupos de voluntários cumprem a mesma tarefa, sendo que um deles simplesmente recebe as instruções do que fazer e lança-se em sua resolução. Enquanto isso, um segundo grupo é instigado a perguntar-se se deseja desempenhá-la e se acha que conseguiria.
A maior eficiência foi revelada por parte daqueles que puderam duvidar e precisaram escolher fazê-lo e não pelos outros, que teoricamente começaram focados. O contraponto entre os “mais decididos” e aqueles que precisaram buscar uma “inspiração interna” levou os estudiosos a afirmar que o sucesso está mais próximo daqueles que “se perguntam sobre os rumos a seguir e conjeturam possibilidades”.
Já outra (Super Interessante) explicita que a chave do sucesso está no número elevado de horas de dedicação para um objetivo, mas nestas conta muito a experiência de errar sucessivas vezes e buscar novos caminhos. A matéria reproduz uma máxima atribuída a Einstein: “Quem nunca errou nunca fez nada de novo”.
Vale lembrar que a obsessão pelo sucesso caminha junto com a intolerância das escolas com os alunos sonhadores e distraídos, constantemente medicados por isso, com a vida de milhares de workaholics em busca da produtividade, com o empenho dos pais exigentes da perfeição de seus herdeiros.
Por isso é fundamental a observação de que o trabalho não deve ser alienado, que vale parar para decidir fazê-lo ou não, assim como é importante aprender errando. Distrair-se, perder algum tempo, seguir caminhos errados não é incompatível com ser bem-sucedido. Na dúvida, siga as pesquisas.
Outro modo de entender isso é ouvir um garotinho de seis anos que recentemente disse à sua mãe que “só tinha três dúvidas”. Divertida, ela lhe disse que as possuía em maior número, mas queria saber as dele. Ele explicou que suas dúvidas eram se queria ser engenheiro, jogador de futebol ou poeta.
Ao incluir a poesia entre suas alternativas de futuro, ele compreendeu melhor do que muitos adultos que para ser alguém também é preciso investir em objetivos abstratos, onde acima de tudo se duvida, misturam-se palavras por prazer. Einstein talvez concordasse com a ideia de que quem nunca sonhou nunca fará nada de novo.
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