quinta-feira, 18 de outubro de 2007


Carlos Heitor Cony

Tempo de paradas

Simultâneas, com vários significados e diferentes interpretações, o Rio teve no último domingo as paradas gay e a da vaca, esta última em sua versão erudita, "cow parade", combinando com o "gay", que me parece já estar dicionarizado como palavra nacionalizada e indolor aos ouvidos dos puristas mais radicais da nossa língua.

Segundo os jornais, um milhão de pessoas participaram da parada gay, que teve presença do governador local, que não é gay, mas defende a causa, assumindo uma atitude que merece louvor e continuidade. Mais cedo ou mais tarde, as principais reivindicações do alegre povo do arco-íris serão atendidas, principalmente a que formaliza a união estável dos casais, até agora discriminados pela legislação.

Mais complexa, sem causa comum e definida, 200 vacas de fibra de vidro foram espalhadas pela zona sul, território até então virgem de vacas de verdade. Que se saiba, desde Duclerc e Duguay-Trouin, que em tempos outros invadiram o Rio pela zona sul, então deserta, nunca foram vistas vacas compondo uma paisagem pastoral e bucólica.

Verdade seja dita: foram um sucesso. Turistas que outrora se fotografavam em torno do Cristo Redentor trocaram uma das sete maravilhas pelas vacas, que são mais antigas do que o nosso Salvador -uma delas esquentou com o seu hálito de ervas o menino da manjedoura de Belém.

Verdade também que algumas delas foram aviltadas pelos seus criadores, embora a maioria conserve a elegância e o belo desenho que a natureza lhes deu.

Em Ipanema, uma vaca está vestida com um maiô de duas peças anos 60 e óculos escuros do tamanho de uma bicicleta infantil. Outra está cheia de colares e miçangas, mais para perua do que para vaca. Todas irão para o brejo.

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