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sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Juremir Machado da Silva
TUDO POR AMOR
Alguns leitores me pedem para tratar de mais temas culturais e dar mais dicas de leitura. Eles têm razão. Vou satisfazê-los. Mas isso me custou um grande sacrifício. Tive de me dedicar por algumas horas a um tipo de publicação estranha aos meus hábito quase monásticos. Comprei a Playboy.
Ao dono da banca, eu disse que era para ler a obscena entrevista com o Diogo Mainardi. Sou tímido. Todo mundo é tímido no Brasil. Renan Calheiros, por exemplo, é sabidamente tímido. Antes, eu só comprava a Playboy uma vez por ano para conhecer o ranking das faculdades brasileiras.
Sempre me pareceu extraordinário que o julgamento dos melhores cursos superiores do Brasil fosse feito por uma revista de mulher pelada. Isso mostra certamente o quanto somos despidos de preconceitos.
Analisei o material com olhos críticos e perscrutadores. Mônica Veloso passa de ano com nota 7. Depois dessa leitura atenta, feita com esmero e gravidade, comecei a entender melhor Mônica e Renan.
Não estou dizendo isso por ter ficado deslumbrado com os atributos físicos da moça. Mas por ter aplicado uma metodologia complexa ao caso em estudo. É falso dizer que no Brasil tudo termina em pizza. Tudo termina na Playboy. Isso me abriu os olhos. Mônica agiu por amor.
Renan também. Romântica, ela sonhava com as passarelas, com o glamour e com a glória. É humano. Todo mundo sonha com isso. Romântica, porém, bastante prática, ela sonhava também com a estabilidade financeira. Normal. Quem não deseja se preparar para o futuro?
Conhecedora de certas idéias dos senadores, ela, possivelmente, temia o desmantelamento da legislação trabalhista. Tratou, portanto, de amarrar o burro na sombra. Agiu por amor ao conforto, ao sucesso e à fama.
Renan Calheiros, como tenho mostrado incansavelmente, é um homem determinado, persistente e disciplinado. Poucos como ele têm dedicado tanto esforço para manter um cargo que parece só trazer problemas.
Fica toda a mídia de olho, botando defeito e tentando derrubar o pobre presidente do Senado. Sem dúvida, Renan Calheiros agiu por amor. Quem pode condená-lo? Agiu por amor ao sexo com uma mulher jovem.
Agiu por amor ao povo brasileiro que tantos votos tem lhe dado. Agiu por amor ao clima de Brasília, que, apesar de muito seco em determinadas épocas, tem muitos dias de temperatura amena e noites agradáveis.
Agiu por amor ao debate público com os seus distintos confrades, dos quais não quer separar-se de modo algum, indicando até mesmo que não poderia viver sem eles.
Agiu por amor aos seus amigos de Alagoas, gente que sempre o apoiou, mesmo nos piores momentos da era Collor, e que necessita muito de alguém bem posicionado na selva que é a capital federal.
Enfim, Renan agiu por amor a algo superior, uma entidade que fascina todo mundo e tira os homens do sério: o poder. Getúlio Vargas preferiu suicidar-se a perdê-lo.
Os militares tomaram-no pela força. Collor quase morreu de tristeza ao ser derrubado. FHC encontrou um jeito pouco ortodoxo de usufruí-lo por mais quatro anos.
Luiz Inácio já sonha com 2014. Renan não podia ser diferente. A leitura de Playboy foi uma revelação para mim. O Brasil está nu em suas páginas bem modeladas. Concluí que a exibição de Diogo Mainardi é pornográfica. Já o nu de Mônica é artístico.
Uma ótima sexta-feira e um excelente fim de semana, este que é o último de outubro/07.
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