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sexta-feira, 26 de outubro de 2007
26/10/2007 - Jaime Cimenti
Sátira à sociedade contemporânea
O jovem escritor francês Martin Page tem apenas 32 anos de idade e já se consagrou como autor do romance best-seller mundial Como me tornei estúpido. Traduzido para 30 países, ele acaba de ganhar uma adaptação para o teatro.
Page ama Paris, Nova Iorque, Barcelona e o Rio de Janeiro sob chuva e milita ativamente contra o verão. A gente se acostuma com o fim do mundo, seu novo trabalho de ficção, acaba de ser lançado no Brasil, com tradução do escritor e jornalista Bernardo Ajzenberg.
A obra narra a saga de Elias Carne, produtor acostumado a trabalhar para garantir o sucesso dos mais prestigiados diretores de cinema. Habituado a trabalhar longe dos holofotes, sua tarefa principal consistia em manter o funcionamento e as aparências do set e dos atores envolvidos na filmagem.
Fazia isso com competência, sem deixar rastros. Porém, naquela noite, enquanto os primeiros flocos de neve caíam sobre Paris, uma cerimônia o tirou daquela existência algo imaterial.
Pessoas desconhecidas agora se negavam a achar que ele não existia. Ele era um dos ganhadores do prestigiado prêmio Ártemis e, assim, foi obrigado a sair das sombras do sucesso alheio, para encarar seus próprios limites. Foi obrigado, também, a conhecer o gosto amargo do fracasso.
Jovem produtor de muito sucesso, ele se vê às voltas com o desmoronamento de seu universo quando é afastado, subitamente, da produção de um grande e badalado filme que vai ser realizado na África. No último momento, o excêntrico diretor de cinema Martial Caldeira opta por Victor Malène, o impecável Vic, colega e rival de Elias.
Pego de surpresa pela derrota repentina, assume a tarefa nada nobre de adquirir os direitos autorais da história da jovem e depressiva escritora chamada Margot Lazarus, que sempre tenta o suicídio após o fim de um relacionamento amoroso.
A escolha do rival e o novo desafio que se apresenta para Elias vão provocar altas reviravoltas na vida do então discreto produtor.
Cansado das mentiras e meias verdades dos estúdios cinematográficos, onde a sujeira sempre é varrida para debaixo do tapete, Elias não pode mais fugir da tentativa de escrever sua própria história, com novo tabuleiro, novos personagens, e, quem sabe, um final feliz.
Ele pensa que o fim de um mundo pode ser o início de outro. Aos poucos, vai descobrindo a verdade sobre seus amigos e sobre sua própria vida.
Descobre que valeu a pena não ser convidado para o tal filme na África e que Paris pode ser muito mais interessante do que qualquer ficção.
Com muito humor, altas doses de ironia e uma escrita absolutamente visual, ele faz uma sátira deliciosa à sociedade contemporânea, com muitas frases corrosivas e velozes como os atarantados dias que voam por aí. 224 páginas, R$ 29,00. Editora Rocco, telefone 21-3325-2000.
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