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quarta-feira, 17 de outubro de 2007
17 de outubro de 2007
N° 15391 - Martha Medeiros
Mônica despe a todos
Peguemos um acontecimento trivial, que está praticamente perdendo a atualidade e que daqui a uma semana não será mais comentado nem em fila de banco, nem em mesa de churrascaria: as fotos da jornalista Mônica Veloso na Playboy.
O que sabemos de concreto sobre o fato: ela teve um caso com um senador da República, casado. Ninguém tem nada a ver com isso, são dois adultos e fazem o que bem entendem.
No entanto, ele acabou colocando a República na história porque pagava pensão pra moça com dinheiro que não era dele, e sim de aliados que ele favorecia com sua ascendência política, o que passa a ser assunto nosso, já que Renan Calheiros é funcionário meu, seu e de todo o povo brasileiro.
O caso deles termina, pormenores vêm a público e, depois de prolongadas e irrefutáveis denúncias, Sua Excelência renuncia usando o eufemismo "licença" para sair de cena com alguma pose, como se isso fosse possível depois do trucidamento moral e ético. Ela? Linda! Faturando com gosto.
Mas, em entrevistas, negando-se veementemente a falar sobre o pai da sua filha, que, segundo ela, nada tem a ver com a venda da revista ou com a futura biografia que pretende lançar sobre os bastidores da política em Brasília - projeto que é bom que saia logo antes que a esqueçam.
Gente, eu sonhei tudo isso ou é real?
Primeiro: a Playboy, revista respeitada em seu segmento, sempre alternou ensaios sensuais com mulheres famosas e mulheres contingentes, digamos assim. Atualmente, as contingentes estão mais requisitadas do que nunca e, se não forem deusas, o photoshop está aí pra isso mesmo.
Muitas artistas consagradas e respeitadas já fotografaram também por dinheiro, mas souberam dar à sua nudez algum conceito, alguma mística, algum mistério. Agora é essa liquidação, esse fim de feira.
Segundo: Mônica se recusa a falar em entrevistas sobre Renan Calheiros, como se o fato de ela ter sido pivô de um escândalo político nada tivesse a ver com sua projeção momentânea.
É um faz-de-conta constrangedor e hipócrita: ela se comporta como se tivesse sido convidada apenas por ser bonita, quando, na verdade, no Brasil, chuta-se uma árvore e caem 10 Mônicas Veloso, só que nenhuma com a história peculiar que ela tem pra contar - mas que, recatada, não conta.
Terceiro: que mediocridade é essa que estamos vivendo e consumindo? Uma sociedade sem vergonha de se expor, sem vergonha da própria farsa, sem vergonha de faturar em cima de situações vexatórias, sem vergonha de ganhar dinheiro a qualquer custo, uma sociedade absolutamente sem pudor.
Já tivemos glamour, já tivemos cultura, já tivemos um certo refinamento, uma certa discrição. Foi em outra vida. Que bando de chinelões nos tornamos.
Uma ótima quarta-feira, pelo menos com previsão de tempo bom lá fora. Que aqui dentro de cada um também esteja um ótimo tempo.
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