quarta-feira, 31 de outubro de 2007



31 de outubro de 2007
N° 15404 - Diana Corso


Dia das Bruxas

Hoje é Halloween, no Brasil, Dia das Bruxas, ou, para alguns, Dia do Saci.

A data é originária do calendário celta, celebração de um momento em que os portais que separam vivos e mortos se abrem, possibilitando cultos, homenagens, rituais, festas e outros trânsitos.

Os americanos a transformaram num carnaval de tintas sinistras, góticas e noturnas, mas tudo isso se torna uma brincadeira de crianças. Gostemos ou não, essa festa vem pegando por aqui, tanto que o Dia do Saci é uma reação a isso.

O que os nacionalistas não perceberam é que não há como reduzir um dia de celebração mágica, macabra e lúdica, em que todas as representações da morte são bem-vindas, aos personagens do nosso folclore.

Aliás, nossa cultura carece de uma celebração festiva dos mortos, a criatura do gorro vermelho não se presta, sequer, para mensageira com o mundo dos que se foram.

O Halloween americano deve sua popularidade global a duas características: as fantasias sinistras, que decoram corpos e casas, e as brincadeiras infantis.

Nosso Carnaval de exportação, reduzido a um desfile de peladas rebolantes, privou-nos das fantasias, das máscaras.

Pena, porque colocar uma fantasia areja a alma, ajuda a esconder a identidade enquanto revelamos algum segredo. Mas as festas são diferentes, porque no Carnaval brincamos com o sexo, enquanto que, no Dia das Bruxas, tentamos zombar da morte.

Mas as gostosuras ou travessuras infantis revelam um outro monstro contemporâneo, representado por essas mimosas criaturas. Todas as crianças são travessas:

imperfeitas, resistentes à educação, ficam adiando o crescimento e se fazendo de bobas frente às lições, abrigam medos irracionais, sonham quando as precisamos despertas e se mantêm acordadas quando as queremos dormindo. Investimos tanto nelas que esperaríamos uma contrapartida de mais qualidade.

O Halloween se consagrou nos moldes atuais junto com o baby boom norte-americano, quando as famílias construíram bolhas de bem-estar para repovoar o país de cidadãos saudáveis, capazes de garantir a felicidade geral da nação.

O tiro saiu pela culatra e surgiram os adolescentes transviados e enfastiados, que demonstram a impossibilidade de controlar os filhos, por mais que se faça.

Se importamos essa festa é porque também temos medo de que nossas crianças descontroladas destruam tudo com suas travessuras infernais, como os Gremlins, do filme de 1984.

Além disso, por mais que coloquemos cultura instrutiva e pasteurizada na mamadeira das crianças, elas logo mostrarão seu guloso paladar para fantasias mais radicais, envolvendo também a morte.

Por isso, essa festa pagã necessita de um exército de monstros tão vasto quanto a imaginação humana pôde criar.

Combatê-los será tão infrutífero quanto queimar as bruxas na fogueira, já que, como se vê, elas sobrevivem. Além disso, o Saci, garoto travesso, seria o primeiro a se divertir nessa festa.

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