sábado, 27 de outubro de 2007



28 de outubro de 2007
N° 15401 - Paulo Sant'ana


A camburãoterapia

Comunica-me o Cláudio Brito que o prefeito de Viamão, Alex Boscaini (PT), foi até Brasília e, numa audiência com assessores do ministro Tarso Genro, implorou para que o presídio-modelo salutarmente anunciado pelo governo federal não seja localizado em seu município.

É o típico gesto de um prefeito e sua comunidade que preferem ter 4 mil criminosos em ação no seu município do que 400 detentos encerrados numa prisão.

E não sabem que, por estranho e exato desígnio criminológico, quanto menos detentos estiverem presos em cadeias do seu município, mais criminosos haverá soltos pelas ruas do território em que vivem.

Não é só o prefeito e a comunidade de Viamão que não admitem presídio em seu território. Os de Alvorada também. E os de dezenas de outros municípios do Interior.

Não compreendem eles que, se os quase 500 municípios gaúchos baterem pé em não admitir presídios em seus territórios, teremos de mandar os presos gaúchos para o Alasca ou para a Tailândia. Como é que faríamos?

Não sabem as comunidades que essa tendência de purificação dos territórios municipais já se manifestou sinistramente quando prefeitos do Interior decidiram que também não haveria hospitais em suas cidades.

E passaram a mandar todos os seus doentes para Porto Alegre, Santa Maria, Passo Fundo e outros pólos médicos.

Ou seja, são prefeitos seletivos. Doentes e presos eles não querem em seus municípios, a "sujeira" social tem de ser mandada para bem longe, não pode ser exposta em suas cidades, deverá ser exportada.

Mesmo que esta "sujeira" tenha sido produzida lá na área administrada pelos prefeitos, quando não pela sua, no mínimo, omissão.

Temos então, por esta onda aviltante de ojeriza dos prefeitos pelos presídios, que além da "ambulancioterapia", eles agora estão criando a "camburãoterapia".

Doente e criminoso, bota numa ambulância ou num camburão e "carreguem essas pestes para Porto Alegre".

Já se viu no que deu a renúncia das prefeituras a hospitais em suas cidades, um drama social e uma chaga sanitária.

Agora outro drama se erige com o repúdio aos presídios.

Eles só querem igrejas, colégios, creches e casas de chá em suas jurisdições.

A sujeira é posta embaixo do tapete e em seguida trasladada para outra cidade, de preferência a Capital.

Quando é dever social e mais ainda institucional dos municípios comer também a carne de pescoço e não ficar só digerindo o filé.

Se fôssemos uma sociedade organizada, esses prefeitos e essas comunidades seriam obrigados a tratar de seus doentes e a encarcerar seus criminosos, sem transferir essa responsabilidade para os outros.

Porque, de chute em chute como esses, é que este país está virado uma bagunça.

Nenhum comentário: