segunda-feira, 29 de outubro de 2007



Quem, eu? Eu não!

Diego Escosteguy
Veja num. 2032 - 28/10/2007


O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, quer provar que nada tem a ver com o caos aéreo

O caos deu novo sinal de vida nos aeroportos brasileiros na semana passada. Os passageiros que embarcaram em São Paulo e no Rio de Janeiro enfrentaram filas, cancelamentos de vôos e atrasos de até 24 horas.

Tudo indica que, ao contrário das vezes anteriores, a principal causa da confusão foram as fortes chuvas que atingiram a Região Sudeste do país.

Ainda assim, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, não perdeu a oportunidade de apontar sua artilharia para o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi.

"A Anac continua naquela leniência que a caracteriza", disparou Jobim, insinuando que alguma coisa poderia ter sido feita para minimizar o sofrimento dos passageiros.

Jobim é bom de conversa, tem-se mostrado excelente em performances, mas o seu rol de resultados é quase nulo. Há três meses, pressiona o presidente da Anac a deixar o cargo.

Já escolheu até um substituto. Protegido pela imunidade das agências, Zuanazzi recusa-se a sair. Seu mandato só termina em 2011 e ele tem dito a assessores nas últimas semanas que renunciará quando conseguir provar ao presidente Lula que não é um dos responsáveis pela crise.

O presidente da Anac, curiosamente, parece ter-se fortalecido desde que Jobim assumiu o cargo de ministro. No ápice da confusão aérea, no fim do ano passado, Zuanazzi estava bem menos convicto do papel nulo na crise que agora se atribui.

Na semana passada, VEJA teve acesso a uma mensagem eletrônica enviada por ele à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem Zuanazzi deve a indicação para presidir a agência de fiscalização.

Redigida em um idioma muito parecido com o português, a mensagem foi enviada inadvertidamente a outros diretores da Anac no ano passado. Em seu trecho mais tenso, Zuanazzi coloca o cargo à disposição da ministra.

Escreveu ele: "Dessa forma, na hora que te parecer oportuno, estou te disponibilizando o mandato de presidente da Anac. Se não achares necessário, fica a informação que estou seriamente repensando minha permanência na agência". Incomodado com sua situação, Zuanazzi se queixava do comportamento de Dilma.

Revela que foi obrigado a ouvir calado "xingamentos" da ministra. "Em todo esse tempo, fiquei sempre com a sensação que me tratavas nem como chefe da Casa Civil e nem como amiga, e nem as duas coisas juntas.

Teu tratamento ensejava como (sic) se eu fosse um "devedor eterno" por ter sido indicado para presidir a Anac. Em nenhum momento senti qualquer proteção pela cumplicidade natural entre companheiros", escreveu o presidente da Anac.

Dilma Rousseff é a grande gerente do governo. Durante os piores momentos do apagão, ela entrou em choque em diversas ocasiões com Milton Zuanazzi, de quem cobrava uma ação mais rigorosa contra as companhias aéreas.

Zuanazzi ouviu várias vezes em alto e bom som a opinião da ministra sobre seu desempenho. Não deve ter ouvido boas coisas, pois chegou a cogitar da renúncia coletiva da direção da Anac. Todos acabaram saindo, menos Zuanazzi.

A pressão do ministro Jobim, paradoxalmente, parece ter-lhe dado energias para permanecer no cargo. Abandonado, ele se empenha em mostrar que a culpa pelo caos é do governo. Zuanazzi está montando um dossiê com as medidas – engavetadas – que ele sugeriu para debelar a crise.

Enquanto isso, para muita gente ele continua sendo o rosto mais conhecido do caos aéreo. Na semana passada, segundo o colunista Ancelmo Gois, de O Globo, Zuanazzi era um dos passageiros do vôo da TAM 3887, que fazia a rota Brasília–Rio de Janeiro.

Depois de esperar por uma hora para desembarcar, atraso justificado pela falta de escadas e ônibus, Zuanazzi foi abordado por um passageiro e, ainda de acordo com o colunista, travou-se o seguinte diálogo: "E aí, presidente, reclamamos com quem?". "Comigo é que não é. Vá ao juizado no aeroporto. Vá falar com a companhia!"

Pode até ser gaúcho, mas que é um grande cara de pau a isso é.

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