terça-feira, 30 de outubro de 2007


Juremir Machado da Silva

QUASE TUDO SOBRE O PATRONO

Faz mais de 25 anos que eu conheço o patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 2007. Mas isso não é vantagem. Quem não o conhece? Antonio Hohlfeldt (levei cinco anos para aprender a escrever o seu sobrenome e ainda me engano) foi meu professor.

Também não é vantagem. Quase todo jornalista gaúcho formado na PUC nas últimas três décadas foi aluno dele. Não quero dizer que ele está velho.

Está maduro. Excelente professor. Um mestre. Culto, dedicado e intenso. Ensaísta, escritor, autor de livros infantis, jornalista e político, Antonio é polivalente. Foi o primeiro vereador do PT eleito em Porto Alegre. Depois, foi para o PSDB. Agora, está no PMDB.

Nesse percurso, passou de vereador a vice-governador. Eu gostava de vê-lo na faculdade com seus guarda-costas obrigatórios. Acho que andou ensinando teorias da comunicação para eles. Tinham ar de quem havia acabado de sair de uma aula sobre McLuhan.

Antonio Hohlfeldt é uma máquina de trabalhar. Dizem que dorme quatro horas por noite e que ainda levanta depois de 45 minutos para redigir um artigo ou ler algumas páginas.

Já dividi quartos de hotel com ele (não era o meu sonho) e, se não foi delírio, vi quando ele abriu um livro às 4h da manhã. Nunca vi alguém mais louco por páginas impressas. Volta das viagens carregado de volumes alentados.

Nas defesas de teses, no papel de examinador, cobra do estudante uma vírgula esquecida na página 233 ou um erro de concordância na 145. Nada lhe escapa. Lê de cabo a rabo. Quando se tornou vice-governador, continuou como professor na PUCRS. Virou meu subordinado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação.

Dei-lhe ordens implacáveis e tirânicas só para ver se ele, como segunda autoridade do Rio Grande do Sul, teria a coragem ou a arrogância de me desobedecer. Mostrou-se muito obediente e cordato. Posso colocar no meu currículo: dei ordens ao vice-governador.

A Feira do Livro de Porto Alegre sempre escolhe excelentes patronos. Antonio Hohlfeldt é um dos melhores por tudo aquilo que já fez pela cultura literária do Rio Grande do Sul desde os seus tempos de jornalista de Cultura no antigo (não é implicância) Correio do Povo. O homem era fera.

Andei lendo alguns dos seus textos e tirei o chapéu. De resto, ele continua mandando ver no jornalismo de Porto Alegre falando de teatro. É doido por qualquer tipo de dramaturgia. Já nos abandonou na metade de um jantar para ver uma peça. Gaúcha! Até cantor ele já foi.

Pena que ainda não pude botar a mão em nenhuma gravação com o seu timbre inconfundível, algo entre Cauby Peixoto e Tim Maia. A voz de Antonio é uma das suas marcas mais fortes. É um vozeirão. Quando ele sussurra, o prédio treme. Ou desaba.

Entre as muitas qualidades de Antonio Hohlfeldt, reconhecidas por todos, está a lealdade. Mesmo assim, aquela que me chama mais a atenção é a paixão pela cultura.

Ele tem sido um divulgador incansável dos valores culturais do Rio Grande do Sul, de Mario Quintana a Erico Verissimo, passando por Caio Fernando Abreu e Luis de Miranda. Poucas vezes gostei tanto de perder uma corrida.

Eu era 'patronável'. Fiquei muito feliz ao ser preterido. Antonio era o meu candidato preferencial. Continua sob as minhas ordens na PUC. Amanhã, vou mandar que trabalhe menos.

juremir@correiodopovo.com.br

Um excelente terça-feira, mesmo que com chuva como foi a segunda.

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