segunda-feira, 22 de outubro de 2007



22 de outubro de 2007
N° 15395 - Luiz Antonio de Assis Brasil


Palavras (17)

Livro de Horas - É da antiga tradição cristã o livro em que as horas canônicas (Horae Canonicae) celebram-se com orações piedosas. Na Idade Média são livros soberbos, belos, executados em pergaminho, com ilustrações refinadíssimas.

O mais célebre é o Livro de Horas do Duque de Berry. Havia as horas Matinas, Laudes, Primas, Vésperas, Completas e assim por diante. Podemos, entretanto, pensar em horas laicas:

Sete da manhã - É o momento apolíneo de nossa jornada. O dia organiza-se em nossa alma, e nela há uma esperança.

Mesmo a pessoa mortalmente enferma do quarto 423, mesmo ela tem a esperança de sobreviver. Ao abrir as pálpebras para a janela que deixa entrar a luz, o ar, a vida; ao sentir em paz seus órgãos e membros depois da peleja da noite; ao permitir que lhe sequem o gelado suor da fronte, o doente diz-se: "Estou vivo. Que assim me seja dado permanecer até o fim do dia".

Se o futuro dos moribundos mede-se por horas, o futuro das pessoas saudáveis mede-se por séculos.

Meio-dia - É o momento dos ginastas e dos operadores da bolsa de valores. É quando prestamos vassalagem à nossa condição animal e humana. É quando sentimos fome.

A hora meridiana ilumina-nos a cabeça sem provocar a sombra de nosso corpo. Tudo brilha; mesmo a fosca e cansada prata dos candelabros emite uma faísca de luz.

É o momento em que estamos a um passo do engano, tomando o não-ser pelo ser.

Seis da tarde - Nessa hora já temos certeza de nossa mortalidade.

Nove da noite - O dia está vencido. É o domínio assombroso das coisas noturnas. Foi à noite (a noite de segunda-feira, 23 de novembro de 1654) que ocorreu a tempestuosa experiência mística de Pascal.

O caule das glicínias verga-se a seu próprio peso.

Uma debilitada mariposa tenta vencer a luz das vidraças. Alguém força um cadeado.

A lua, nesta noite, é nova. Daí a densidade do escuro que me impede de enxergar as próprias mãos, mesmo que as estenda à frente de meus olhos. A incerteza de amanhã estarmos vivos faz-nos seres religiosos. E assim permaneceremos até o novo dia.

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