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terça-feira, 30 de outubro de 2007
30 de outubro de 2007
N° 15403 - Liberato Vieira da Cunha
Recado de primavera
Não importa quem esteja passeando quem, mas uma das cenas mais triviais deste mínimo pedaço de Porto Alegre onde habito é composta por donos e seus cães. Não é preciso no entanto título de propriedade para saber quem passeia certo e quem passeia errado.
Os cachorros, em especial os habitantes de apartamento, requerem paciência, pois são dotados de uma atração irresistível pela superfície da Terra. Isso significa que seus narizes investigam cada centímetro quadrado de solo, seja um mosaico, um degrau, uma laje. Já nem falo em gramados, em árvores ou postes. Estes são objetos de seu desejo para outras finalidades.
O correto passeador de cães começa por não ter horário; uma excursão média pode durar de 30 minutos a uma hora e tanto. Isso significa que, mais do que uma guia, deve ser dotado de uma cumplicidade infinita, como a daquela senhorita que vejo agora desfilando seu poodle sob um milhão de flores lilases.
O tempo é dos jacarandás e eles iluminam em arco os céus desta rua vizinha. É quase inacreditável sua beleza. Pois a senhorita, quase tão linda quanto eles, passeia do cenário distraída, mas atenta a cada pequeno movimento de seu cão, como se fosse sua serva e vassala.
Sei não, mas desconfio que o mundo seria melhor se as pessoas tivessem olhos para um cão, para um jardim, para a explosão de cores dos jacarandás, ou para este sabiá que, desde a madrugada, compõe sinfonias para o universo.
Leio que graves acontecimentos sucedem, que a natureza está ameaçada, que nunca foi tamanha a violência, que a corrupção desconhece limites e fronteiras. São todas coisas sérias, como a miséria, a fome, a doença, as desigualdades.
Em nada vai mudar esse panorama no entanto se nos fecharmos para os pequenos grandes palcos que nos rodeiam.
Falo de uma senhorita e seu poodle; de uma rua protegida por um firmamento de jacarandás; de um sabiá que é sozinho todo um concerto. Falo deste recado que me mandaram e me fez notar enfim que é primavera.
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