sábado, 13 de outubro de 2007



14 de outubro de 2007
N° 15392 - Paulo Sant'ana


O corpo nu

Está fazendo sucesso nas bancas a Playboy que mostra nua, em diversas poses, Mônica Veloso, a jornalista que teve uma filha com o presidente do Senado.

Particularmente, não sou simpático a que uma mulher se desnude perante o público em troca de um cachê substancioso.

Eu penso que a mulher deve ficar nua somente para o homem que ela ama ou que ela deseja. Ganhar dinheiro para ficar nua para todos me parece um auto-aviltamento.

Penso que uma mulher idealmente tenha de posicionar-se assim: "Só poderá me ver nua o homem que eu conquistar ou que venha a me conquistar. Este é o único preço que devo cobrar para a visitação aos porões mais íntimos da minha privacidade. Qualquer outra forma de desvendamento da minha intimidade será indigna.

E se eu tiver de ser remunerada para mostrar as partes mais sagradas do meu arsenal privado, então isto será um ataque à minha honra e um insulto ao meu decoro, uma espécie de mercadejo prostibular".

Mas não tenho muita convicção sobre esse meu critério: as pessoas devem fazer de seu corpo e de sua imagem o que bem entenderem, não importa o preço que cobrem.

E talvez as console que a finalidade que darão ao dinheiro por terem seu corpo devorado pelos olhos de milhares de leitores será nobre e adequada ao seu bem-estar.

Mas os homens se atiram loucos às bancas de revistas, pagando apenas uma vintena de reais para o regalo de seus olhos, pagam uma ninharia, quando o presidente do Senado pagou uma fortuna por praticamente o mesmo deleite, podendo ainda isso custar-lhe o mandato e a carreira política.

Por outro ângulo, as pessoas compram a revista para saber se valia a pena para Renan Calheiros tanta despesa e tantas incomodações.

E quando dão de cara com as fotos de Mônica Veloso nua e bela, dizem para si mesmas que não há chefe de família ou chefe de poder de Estado que possa desdenhar de tanta delícia.

Eu fico a cismar sobre qual será a reação de Renan Calheiros ao ver sua ex-namorada exposta assim nas bancas de revistas aos olhos de toda a nação.

Será que ele dirá: "Viram todos agora como valeu a pena?". Ou então: "Se acham prazeroso vê-la, imaginem o que foi tocá-la, desfrutá-la, possuí-la. Não há nada que pague um privilégio desses. É uma digna recompensa para um presidente de um poder".

Aí é que volto àquela minha hipócrita visão moralista do início da coluna: não será desconfortável para uma mulher refletir que para sobreviver tenha de ser remunerada primeiro por uma empreiteira e mais tarde por uma revista de instigação sexual?

Mas, por outra parte, daqui a 20 anos, quando já estiver beirando a velhice, Mônica Veloso não folheará a revista em que posou nua orgulhosa da sua juventude e de ter sido um dos símbolos sexuais de uma geração?

E não saboreará a idéia de que pelo menos pôde usufruir de sua beleza para ter algum lucro? Então, com quase 60 anos, ninguém se atreveria a pagar-lhe míseros tostões pelo declínio desanimador dos seus encantos.

A juventude tem de ser aproveitada. Principalmente se ela proporcionou alguma vantagem financeira que redundou em uma velhice mais tranqüila.

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