terça-feira, 16 de outubro de 2007



16 de outubro de 2007
N° 15390 - Paulo Sant'ana


Droga de drogas!

O Jornal Nacional divulgou reportagem ontem sobre falsificação de bebidas de álcool.

Ou seja, a indústria de bebidas, que movimenta bilhões de reais por ano, existe - e mesmo assim aparecem falsificadores.

Imaginem se, por exemplo, fosse decretada a Lei Seca total, não a que o secretário Mallmann que adotar, que compreende apenas o comércio de bebidas durante determinados dias e horários.

Mas uma Lei Seca total, que não permitisse o consumo de bebidas alcoólicas nem nos lares. Espocaria um tráfico de bebidas que seria ainda mais grave que o alarmante tráfico de drogas que ronda reservadamente as nossas cidades.

A teia de crimes instalada no tecido do tráfico de bebidas seria maior ainda e mais assustadora que o atual tráfico de drogas.

Por que estou contando sobre o incogitável: uma Lei Seca total?

Exatamente porque, no que se refere às drogas, a Lei Seca é total. Não se permite nenhuma droga, no entanto a indústria e o comércio das drogas funcionam paralelamente a todas as outras indústrias e comércios lícitos.

Ou seja, como o público consumidor de cocaína, crack , maconha etc. é muito grande, alguém teria de abastecê-lo.

E assim se erigiu o tráfico, com organização clandestina.

Neste último domingo, uma reportagem de Humberto Trezzi em Zero Hora acompanhou uma "firma" de tráfico de drogas.

Mostrou que essa "firma" se organiza como uma empresa, com recursos humanos definidos, seus olheiros, seus endoladores (os empacotadores das drogas), os mulas (que levam a droga da "boca" até os distribuidores ambulantes), os soldados (que vigiam as "bocas" contra a polícia e os bandos concorrentes), até o gerente e o patrão.

Essas organizações criminosas se constituem no que se pode chamar de uma existência óbvia: ou seja, é tão grande a demanda de drogas entre a população "lícita", que isso fatalmente enseja a implantação do tráfico, a alguém teria de caber a tarefa audaciosa e imaginosa de abastecer esse mercado ávido.

E é tão atraente esse mercado em matéria financeira, que se pode dizer que ele jamais deixará de existir: mesmo que as organizações policiais se esmerem em combatê-lo, sempre haverá quem não resista à tentação do lucro fácil e intributável.

Daí que muitos estudiosos dos efeitos deletérios das drogas sobre o meio social cogitam de legalizar a indústria e o comércio de tais produtos.

No entanto, o álcool é uma droga lícita e se conhecem os seus efeitos nefastos, tanto no índice de acidentes de trânsito quanto no de homicídios e outros delitos que provoca.

As drogas, se fossem legalizadas, também não os provocariam? Mas é claro que sim.

A análise deve concentrar-se apenas no seguinte: eliminadas, com a legalização da droga, as guerras entre traficantes contra traficantes e contra a polícia,

que produzem junto com crimes correlatos milhares de mortes no Brasil, valeria mais a pena acarretar os outros malefícios que as drogas produziriam sobre o meio social, muito mais então aumentados diante da total liberação?

Duas verdades no entanto afloram inequívocas neste debate: tanto a de que as drogas, sejam lícitas ou ilícitas, minam e destroem o ser humano - e a de que as drogas são inseparáveis da conduta humana.

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