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terça-feira, 16 de outubro de 2007
Clóvis Rossi
A chuva e os políticos larápios
Quando eu era garoto, ouvia meu avô, italiano legítimo, reclamar de vez em quando com uma frase que me ficou gravada para sempre. "Piove, governo ladro", dizia. Até se chovia, a culpa era do governo ladrão.
Imagino que um bom número de italianos pense até hoje como meu avô. Esse desamor deve ter ajudado a implodir por inteiro o sistema partidário italiano assim que o fim do comunismo tornou desnecessário agüentar partidos tidos como corruptos, mas que serviam como diques de contenção ao comunismo no país que teve o PC mais forte do ocidente.
Pois é nesse país que a cidadania deu domingo um exemplo de mobilização que contrasta violentamente com o que ocorre no Brasil. Mais de 3 milhões de italianos votaram para eleger o novo líder do Partido Democrático, a fusão de diferentes correntes de centro e de esquerda -de ex-comunistas a ex-democrata-cristãos, entre outros.
O voto não era obrigatório nem estava limitado aos filiados ao novo partido (ou aos velhos grupos que compõem agora o PD). Mais ainda: pagava-se para votar. Só 1, mas pagava-se.
Compare-se com o número dos que votaram no primeiro turno da eleição do PT, em 2005, no auge da crise do mensalão, o que, em tese, deveria provocar uma mobilização intensa.
Foram apenas 315 mil, pouco mais ou menos. Duas observações: o PT continua sendo o partido de maior número de filiados e militantes; o Brasil tem uma população mais de três vezes superior aos 60 milhões da Itália.
Meu avô emigrou para o Brasil em 1888, o que indica que considerava os políticos italianos ladrões quando o Brasil ainda nem estreara a República.
Um século e tanto depois, os italianos ainda se mexem para votar em pleito interno. Ah, já não precisam emigrar. A Itália, sexta economia do mundo, tem invejável qualidade de vida.
crossi@uol.com.br
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