sexta-feira, 19 de outubro de 2007



19 de outubro de 2007
N° 15393 - Paulo Sant'ana


O precatório da Saúde

Esta falência do Estado do Rio Grande do Sul me preocupa e amassa por diversos motivos.

Evidentemente que olho para as centenas de milhares de funcionários públicos do Poder Executivo que receberam migalhas de reajustes nos últimos anos e não se miserabilizam a passos largos, já se miserabilizaram.

Estão com os vencimentos congelados há 12 anos e incrivelmente não vêem qualquer possibilidade de reajuste nos próximos anos.

Retrato disso, essa passeata e movimento das praças e até oficiais da Brigada Militar que saíram às ruas para pedir providências sobre seus ganhos aviltantes e completamente insuficientes para manter uma vida pobre mas decente.

Onde é que vai terminar essa tragédia?

Isso é uma tragédia social.

Mas inacreditavelmente, na hierarquia das aflições sobre o colapso das finanças do Estado, existe uma minha preocupação maior ainda, que deve ser de todos.

Trata-se da Farmácia do Estado, que segundo se noticiou ontem não está fornecendo medicamentos, por falta de recursos, sequer para pessoas que receberam transplante de órgãos.

Como se sabe, os transplantados necessitam de medicamentos para o resto de sua vida. Qualquer falta de medicamento significará a morte, ou seja, a frustração de todo aquele processo dramático de inscrever-se numa fila à espera de doadores, verificação patética da compatibilidade do órgão. Enfim, a sorte grande, a salvação. Alcança o transplante.

E como é pessoa de poucos recursos, necessita pelo resto do tempo de sua sobrevivência que o Estado lhe conceda gratuita e periodicamente os medicamentos necessários à sua sobrevivência de transplantado.

E o Estado não está fornecendo nem esses medicamentos, diz o noticiário.

Não é só esse tipo de medicamentos que o Estado está freqüentemente deixando de fornecer ou fornecendo em atraso.

Acontece que se sabe agora que cresce em volume geométrico o caudal de ações na Justiça que visam a obrigar o Estado a fornecer medicamentos para as pessoas necessitadas.

A Defensoria Pública, cumprindo seu dever, cada vez mais acolhe o pedido desesperado de socorro dos pacientes que necessitam os medicamentos e entra na Justiça com as ações, que são prontamente concedidas pelos magistrados.

Antes, as ações da Justiça passavam à frente da fila dos medicamentos concedidos, o que já implicava desfavorecimento dos que estavam na fila.

Agora, se noticia, está se formando uma fila de decisões da Justiça que mandam fornecer o remédio. Fila para a urgência!

Isto é o fim da picada, estamos começando a assistir ao Precatório da Saúde, ou seja, à fila da morte.

Como não tenho mais a quem pedir socorro, peço ao governo federal. O governo federal tem o dever de não permitir mais esta agonia do nosso Estado. Socorro!

Lucas Barroso, estudante de Jornalismo, fez uma interessante croniqueta para um site da Unisinos:

"A última coisa que o ator Paulo Autran fez em vida foi fumar um cigarro. Morreu de câncer e enfisema pulmonar. Oitenta e cinco anos de idade. Nada mal. Fumava desde os 23. Dois maços por dia.

Novecentos e cinco mil e duzentos cigarros em vida. Sessenta e dois anos de fumante. Um cigarrinho, ao todo, pesa um grama. Autran tragou quase uma tonelada de fumo. Novecentos e cinco quilos e duzentos gramas exatos. O peso de um carro popular.

A fumaça, obviamente, foi para seus dois pulmões. Trinta centímetros mede um pulmão. Oito centímetros, o tamanho de um cigarro. Os que o senhor Autran fumou em vida, se enfileirados no chão, dariam, 72 quilômetros. Uma viagem de Porto Alegre a Taquara".

Nenhum comentário: