sexta-feira, 19 de outubro de 2007


CLÓVIS ROSSI

Infelicidade duradoura

SÃO PAULO - Do texto "Os médicos estão infelizes", do extraordinário profissional que é Miguel Srougi, professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP: "Os médicos [...]

são afrontados por um sistema de saúde imerso na incompetência, na indecência e na indigência, frustrando-se quando exercem a ação médica.

É irrealista esperar que eles pratiquem condignamente sua profissão quando os instrumentos para uma vida digna lhes são subtraídos por gestores indecentes".

Vale para a saúde, vale para a educação, com as exceções de praxe. Tem-se, portanto, que dois dos setores em que é vital a atividade do poder público estão imersos, no mínimo, na indigência.

Desnecessário, por escandalosamente óbvio, acrescentar que um terceiro setor (o da segurança pública) também cai no mesmo desgraçado saco, talvez ainda pior, na medida em que policiais matam (e morrem) em circunstâncias de que a grande maioria dos médicos e professores escapa.

Srougi lamenta que tenha sido destruída "a promissora estrutura médico-hospitalar edificada no Brasil entre os anos 40 e 60".
Também parecia promissora a estrutura educacional daquela época. O que aconteceu daí em diante?

Simples: massificaram-se tanto o atendimento à saúde como à educação, o que é correto e necessário, mas se negou o investimento indispensável para que a massa tivesse o mesmo cuidado que tínhamos os relativamente poucos clientes de ambos os sistemas em meados do século passado.

Pior: os principais dirigentes da pátria aceitam que "São Paulo paga o que pode" [aos professores, como diz José Serra] e que "a gente faz quando pode e, se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica" (do presidente Lula sobre o conjunto da obra). Ficou como escreve Srougi.

crossi@uol.com.br

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