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sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Antonio Hohlfeldt, o homem-livro
Tem homem-sanduíche, homem-bomba, homem-aranha, homem-bala, super-homem e outros tipos de homens. Antônio Hohlfeldt, a partir dos tempos da brilhantina, foi guri-livro, jovem-livro e depois, definitivamente, homem-livro. Acho que em sua vida anterior ele foi um belo livro infantil ou de ensaios literários.
Na próxima encarnação, vai cumprir a sentença de Jorge Luís Borges, que disse que os escritores, quando morrem, transformam-se em livros, o que é uma forma interessante de reencarnação. Nosso querido Patrono da 53ª Feira do Livro, escolhido por muitos e muitos méritos, é muitos. É muitos e desconhece os inúteis limites dos relógios e dos calendários.
Professor, jornalista, escritor, político, único crítico teatral em atividade em Porto Alegre e outras onipresenças e coisas mais, Hohlfeldt é multimídia. Mas no fundo da sua alma generosa ele é, principal e essencialmente, um desses sagrados homens-livro.
Lembro dele nas décadas de setenta e oitenta, no Correio do Povo e no Diário do Sul, datilografando matérias com velocidade leporina-hipercinética e convivendo com outro ilustre homem-cinema-livro, o lendário Paulo Fontoura Gastal. Hohlfeldt escrevia depressa, porque passava os fins-de-semana lendo todos os livros no sítio da Linha Imperial, na Serra.
Chegava segunda-feira de volta a Porto lidíssimo, afiado, pronto para oferecer textos sobre livros e autores que fizeram o boom do conto brasileiro lá pelo início dos anos setenta, sobre autores que despontavam no realismo mágico, ou apresentando grandes autores gaúchos que surgiram naquele período, como Assis Brasil, Scliar, Lya Luft, Tabajara Ruas e tantos outros. Hohlfeldt sempre foi defensor, protetor e incentivador dos bons livros, além de ter escrito muitos. E bons.
Faz tempo que o Antonio é Patrono da Feira, só que agora é oficial e tudo vai ficar devidamente registrado nos documentos próprios, com as devidas e merecidas homenagens e fotografias. Uma vez, conversando na rodoviária, cheios de livros nas mãos, comentávamos que não devíamos ler tantos livros, que íamos enlouquecer feito Quixotes.
Nem eu nem ele deixamos de ler. Nem vamos deixar. Acho que não enlouquecemos demais. Os amantes dos livros podem não ser milhões e milhões, mas são tenazes, fiéis e não largam os livros nem depois que ficam cegos, tipo o Borges, por exemplo.
No mais, tenho a agradável certeza de que o Antonio, o homem-livro, vai estar em todos os lugares da Feira, em todos os horários, até nas altas horas da madrugada, velando pelas obras e repartindo com todas as pessoas seu inesgotável amor por esse infinito objeto da nossa paixão. Objeto que não tem outro igual.
Jaime Cimenti
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