terça-feira, 23 de outubro de 2007


ELIANE CANTANHÊDE

Remake

BRASÍLIA - Jader Barbalho foi presidente do Senado e enrolou-se com rãs, verbas da Sudam, fortunas inexplicáveis. Foi obrigado a renunciar ao mandato para sobreviver. Sobreviveu.

Preservou os direitos políticos, elegeu-se deputado e -pode anotar aí- vai voltar ao Senado com apoio do PT. Eis o quebra-cabeça de 2010 no Pará: Jader precisa do PT para se eleger senador; o PT precisa de Jader para reeleger a governadora Ana Júlia.

Jader é o que se chamava de "animal político". Esperto, com forte senso de autopreservação, uma fera quando necessário. Deixou o pau comendo na polícia e na Justiça e voltou ao Congresso.

Longe dos holofotes e dos plenários, refugiou-se nos bastidores e aproximou-se do PT, onde vislumbrou sua porta de saída da crise e de reentrada no poder. Foi ativo articulador do casamento do seu partido, o PMDB, com o governo Lula.

As habilidades de Jader contaram muito, mas o ato decisivo da volta por cima foi um velho artifício da impunidade: a renúncia. Se o sujeito é cassado, fica anos fora de cena e murcha.

Se renuncia, volta, lépido e fagueiro. Jader tentou resistir, mas acabou renunciando. Saiu da mídia e preservou os direitos políticos. Saiu pelos fundos para voltar pela frente nas eleições. Voltou.

Renan Calheiros também é do PMDB, chegou à presidência do Senado e virou o alvo número um das denúncias políticas, mas não aprendeu a lição de Jader.

Resistiu durante meses, pediu uma "licença" tardia da presidência e se recusa a ver o que todos os seus principais aliados, inclusive José Sarney, já viram: ou renuncia já ao mandato ou será cassado, proibido de disputar eleições e obrigado a virar fazendeiro de fato e na marra.

Como ex-senador, pela renúncia ou pela cassação, Renan ainda poderá ter enorme surpresa: Jader Barbalho tentando voltar à presidência do Senado. Ninguém merece, mas que pode, pode.

elianec@uol.com.br

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