quarta-feira, 24 de outubro de 2007


CLÓVIS ROSSI

Uma Argentina desconhecida

MADRI - É a primeira eleição argentina, desde a redemocratização (1983), que deixo de cobrir ao vivo e em cores. Computando-se as posses dos generais-presidentes do período 1976/83, foram tantas que até decorei o juramento, que repito de memória:

"Juro por Dios y por los Santos Evangelios respetar e hacer respetar la Constitución y las leyes de la República Argentina".

Cheguei até a discutir comigo mesmo se desfazia ou não os compromissos assumidos na Espanha e me oferecia à Folha para cobrir a eleição de domingo.

Agora vejo que fiz bem em não ter tomado a iniciativa, até porque a Folha está mais bem representada pelo time que está lá.

Afinal, texto de Rodrigo Rötzsch informa que 72,8% dos argentinos dizem se interessar pouco ou nada por política. Não é a Argentina, pelo menos não é a "minha" Argentina.

Nesta última, não havia rodinha de duas pessoas em qualquer esquina da Florida, o grande calçadão central, que não se transformasse numa animadíssima mesa-redonda sobre política e os destinos da pátria. Todo mundo na "minha" Argentina parecia pós-graduado em sociologia ou política.

Agora, os números citados por Rötzsch mostram "graus a mais de degradação num país com antecedentes de primeira grandeza", como escreve Newton Carlos, provavelmente o jornalista que mais conhece a América Latina.

Ajuda na degradação o fato de o sistema partidário ter implodido completamente, na esteira, aliás, do que aconteceu ou está acontecendo em toda a região. É triste verificar que o que nem a ditadura mais selvagem conseguiu (erradicar os partidos históricos) ocorreu na democracia.

No Brasil tampouco há grande apreço pelos partidos, mas que dê um passo à frente quem tenha uma outra fórmula -e menos ruim- de fazer a intermediação entre o Estado e a sociedade.

crossi@uol.com.br

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