03
de julho de 2013 | N° 17480
CAROL
BENSIMON (Interina)
Quem precisa de um ofurô?
No
fim de semana, uma matéria do Estado de S. Paulo sentenciava: “Espaço zen e
ofurô viram ‘micos’ nos prédios”. O texto referia-se a uma tendência do mercado
imobiliário no início dos anos 2000, a de equipar edifícios com esses dois
itens de trejeitos orientais e uso duvidoso. Segundo apuração do jornalista, o
público já não se mostra tão interessado na profusão de “vantagens” oferecidas
por alguns empreendimentos. Coisas como saunas e ofurôs encarecem o condomínio
e, no fim das contas, são pouquíssimo usadas.
Tudo
bem. Levamos cerca de dez anos para descobrir que não queremos cruzar com nosso
vizinho quando ele estiver de sunga branca, e muito menos entrar na banheira de
hidromassagem onde, algumas horas antes, ele se divertia com a esposa e uma
garrafa de champanhe.
Levamos
um tempo semelhante para descobrir que um espaço zen nada mais era do que uma pérgola
encaixada entre o estacionamento e a portaria, com duas chaises-longues, cujo
estofamento ficara precocemente gasto das intempéries, e que não havia absolutamente
nenhuma razão para frequentarmos aquele lugar.
Daqui
a uns cinco anos, talvez possamos chegar à conclusão de que não precisamos de
tantos banheiros nos apartamentos, em todo o caso, não mais do que um a cada
duas pessoas, mas de quartos onde haja espaço para passarmos com folga entre a
cama e a parede. O passo seguinte será exigirmos janelas maiores, por onde a
luz do dia possa entrar com vontade. Será o fim do mercado imobiliário tal como
o conhecemos hoje.
Brincadeiras
à parte, o fato é que provavelmente estamos recebendo o que merecemos. Não
mais, nem menos. É impressionante como somos pouco exigentes com as características
que realmente importam em um imóvel, aquelas que, para o bem ou para o mal, farão
parte de nosso dia a dia, tais como o tamanho do apartamento, sua orientação
solar, a estética do prédio, a qualidade dos acabamentos, o verde do entorno.
Enquanto
isso, costumamos cair na mais pura e banal maquiagem publicitária dos “diferenciais”
que nunca, ou raramente, usaremos: fitness center, espaço gourmet, pet care,
complexo aquático, brinquedoteca, estar fogo (acredite, esse último também é real).
Para
ser justa, de todos esses ambientes semiprivativos, um ainda é ocupado com
certa frequência: o tradicional salão de festas. Receber amigos ou familiares
em um ambiente neutro, organizado, asséptico, sem qualquer traço de nossa
personalidade, é a cara de um certo Brasil. Se a comida for comprada pronta, ou
preparada por pessoas contratadas para esse fim, melhor ainda. Já vai longe o tempo
do bolo da avó, dos balões enchidos pelo pai, dos cachorrinhos-quentes pingando
molho de tomate.
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