Jaime
cimenti
Grande, saudoso, Jaçanã!
Em
Pelotas, antes de apelidarem o Jorge Henrique de Oliveira Mascarenhas de Mendonça
Falcão e Barros de Jaçanã, ele viveu com a mulher e os filhos, mais ou menos
tranquilo, durante uns 40 e poucos anos, na última metade do século XX.
Os
filhos cresceram, voaram do ninho. Jaçanã passou a voar um pouco mais que
antes para outros ninhos, visitando umas pombinhas. Dona
Mariazinha, a mãe dele, foi ficando velhinha, meio doentinha, e ele explicava,
em casa, para a esposa e para as pombinhas, quando exigiam demais a sua presença,
que não podia ficar nem mais um minuto com elas, que precisava pegar um trem
das onze e não deixar a mãe adoentada, sozinha,
sem dormir, tipo assim na canção
do Adoniran Barbosa.
O
apelido do Jorge, veio, claro, do nome do distrito de São Paulo, mencionado nos
versos. Os daquela época contam que as coisas foram acontecendo sem problemas,
que as mulheres até ficavam com pena de Jorginho, o Iquinho, coitado, filho único
e dedicadíssimo.
Claro
que elas se assustavam com a possibilidade de cuidar de uma sogra idosa e
doente e iam levando a situação na manha do ganso. Mas fofoca daqui, conversa
dali, a mulher do Iquinho e três pombinhas acabaram se comunicando e
descobrindo o esquema. Pior: descobriram que a dona Maria não estava tão doente
assim e que o Iquinho andava fazendo umas viagens misteriosas para Rio Grande.
Tanto
foi que, um dia, Jaçanã chegou na casa de dona Maria e encontrou a esposa e as
três pombinhas tomando chá e comendo bolachas Maria. Logo começou a discussão
acalorada, logo foram desmascarando o pobrezinho do Jaçanã, chamando-o de um
monte de coisas. Ele, elegante, impávido, fazendo jus ao pedigree familiar, não
entrou no bate-boca. Disse que não gostava nada, nada daquela baixaria, que
elas que se entendessem.
Saiu
e disse que só voltaria quando o clima civilizado retornasse. Disseram, na época,
no Café Aquarius, que ele se mandara para Rio Grande, para refletir em frente
ao mar e só voltou quando a poeira e os ânimos tinham se acalmado.
Disseram
que dona Maria tinha piorado, que o Jaçanã teve que passar a cuidar mais dela. Disseram
que ele precisou acalmar a patroa de todos os modos e que teve de dar um tempo
na ideia de refazer a coleção de pombinhas, que tinham esvoaçado para longe. Uns
dizem que em Rio Grande, quando a coisa apertava, ele falava para as três
namoradas de lá que precisava cuidar da mãe em Pelotas.
Grande,
saudoso, Jaçanã! Jaça para os íntimos. Lembrança que fica. No seu túmulo quase
sempre tem flores, recordações e lágrimas frescas. Dona Mariazinha jaz ao lado.
Jaime
Cimenti
Nenhum comentário:
Postar um comentário