RUTH
DE AQUINO - 06/09/2012 12h09
O futuro chegou,
Dilma
A
fofoca da semana envolve o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a
presidenta (assim mesmo, com “a”) Dilma Rousseff – pois é assim que FHC se
referiu a ela, e é assim que o Palácio e os apparatchiks a tratam. Digo
“fofoca” porque não vai mudar o país.
São
esgrimas boas de ler e comentar no bar, são saias justas positivas para o jogo
democrático porque revelam divergências em alto nível. Mas seu efeito colateral
na baixa política, em tempo de eleição, é pernicioso.
Cada
lado puxa para sua sardinha (ou o inverso, tanto faz) – e, nos cardumes à
margem, as interpretações costumam ser menos inteligentes que os argumentos.
FHC
e Dilma se comportaram como manda o figurino político, especialmente em época
de eleição, quando o PT está fragilizado pelo mensalão e o PSDB está
fragilizado por seu candidato pangaré em São Paulo, José Serra, que já deveria
ter-se aposentado de disputas eleitorais.
Quanto
mais Serra promete que não sairá da prefeitura para disputar a Presidência,
mais ele mostra sua distância da realidade paulistana. Ninguém está preocupado
com isso – talvez só o próprio PSDB, que não imagina Serra querendo ser
presidente mais uma vez.
O
candidato é o maior inimigo de si mesmo.
O
artigo de FHC contém verdades incômodas sobre a herança de Lula. Cita o
ministério-bomba, o mensalão-bomba, o sindicalismo-bomba, a Previdência-bomba,
o populismo-bomba, tudo pronto a explodir no colo da companheira. Dilma é
produto do governo passado. Mas já agiu em diversas situações de maneira oposta
à de seu criador.
Dilma
se sentiu obrigada a responder em nota oficial. Natural. Ela trocou bicadas amigáveis
e cordiais com seu tucano favorito em eventos públicos. Mandou uma carta
elogiosa a FHC nos seus 80 anos. É evidente que ficaria pessoalmente incomodada
com um texto que a coloca como mera vítima das circunstâncias. Se existe uma
herança de Lula, Dilma participou dela, para o bem e para o mal.
Na
resposta a FHC, a presidente disse governar olhando para a frente. Se for
sincera, melhor para o Brasil"
A
nota de Dilma, bem mais curta, também contém verdades. Ela diz ter recebido “um
país menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média”.
Verdade. Afirma que Lula “não caiu na tentação de uma mudança constitucional
que o beneficiasse”, na busca de um terceiro mandato. Verdade. Pode-se
contrapor que Lula achava melhor descansar por quatro anos, colocando no
Palácio uma técnica de sua confiança. Dilma lidaria sem rabo preso com as
bombas prestes a explodir. E ele voltaria logo depois, para eternizar o PT no
poder.
As
maiores bobagens da semana ficaram a cargo dos correligionários. É demais ouvir
do presidente do PSDB, Sérgio Guerra – logo ele, que sempre falou mais do que
devia –, que “teria sido melhor para Dilma se ela tivesse ficado calada”. Ou o
tom paternalista de Guerra: “Entendemos a presidente”. Como se Dilma tivesse
sido torturada psicologicamente para responder. Ou, ainda, os militantes
petistas comemorando “o fim da lua de mel” entre Dilma e FHC. Até parece.
É
saudável ler, na nota da presidente, que “o passado deve nos servir de
contraponto, de lição, de visão crítica, mas não de ressentimento”. Ela disse
mais: “Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as
administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro”. Se for
sincera, melhor para o Brasil.
Porque,
no mundo real, as favelas continuarão a queimar em São Paulo, deixando milhares
de famílias desabrigadas, dormindo ao relento em seus terrenos tostados, com
medo de invasão de outros pobres sem-teto. Milhões de alunos continuarão a não
aprender português nem matemática. Pacientes continuarão morrendo em filas de
hospitais. Deputados e senadores continuarão a faltar ao trabalho e a mamar nas
tetas dos eleitores.
Você
lembra o Wilder Morais, ex da mulher do Cachoeira? Aquele que substituiu
Demóstenes Torres no Senado? O que faz esse cidadão que ganhou R$ 16.300 por um
dia de trabalho em julho? Interrompeu as férias, assinou o termo de posse, fez
o juramento, viu a plaquinha com seu nome no gabinete número 13...
e se
mandou com a família em férias novamente. Ele terá mais seis anos e meio de
mandato. Ninguém mais comenta que Wilder teria de explicar melhor a relação com
o bicheiro-lobista, que deve transcender a cessão de Andressa. O que faz Wilder
hoje, além de tentar ser esquecido?
Nem
tucanos nem petistas fizeram até hoje a revolução profunda e necessária na
educação, na saúde e na habitação. E tampouco as reformas trabalhista e
previdenciária, essenciais para desarmar uma superbomba. Não fizeram a reforma
política para moralizar o Congresso, obrigar parlamentares a prestar contas e
nos dar, enfim, gosto de votar. O futuro já chegou, Dilma.
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