sábado, 8 de setembro de 2012



09 de setembro de 2012 | N° 17187
PAULO SANT’ANA

O canto dos pássaros

Entre tantos encantos que nos oferecem os pássaros, há um que me emociona: é o cântico dos passarinhos.

Quando eu era criança, nas selvas que havia na encosta do Morro da Polícia, aqui no Partenon, eu subia em árvores e ficava horas absorto a ouvir o cântico dos passarinhos.

Eu ficava imerso numa imensa sinfonia, num grande coral da natureza.

Como é lindo o cantar de um sabiá pousado numa goiabeira.

Havia dois coqueiros defronte à minha casa na Chácara das Bananeiras. E dois canários-belgas faziam ninho definitivo ou temporário nos coqueiros.

Eu acordava pela manhã com o canto melodioso do casal de canários. Eles deveriam estar apaixonados um pelo outro ou pela própria Natureza para cantar tão animadamente e afinadamente assim.

Só à noite cessava o grande e incomparável recital.

Sei que muitos mamíferos, entre eles o homem, muitos peixes, muitos cetáceos, muitos insetos, são cantores e emitem sons melodiosos, como os grilos por exemplo, além das baleias.

Mas os maiores entre todos os seres cantores, acima dos nossos tenores e barítonos, são indiscutivelmente os pássaros.

Dizem que o mais entusiasmante pássaro canoro é a cotovia, que habita as matas da Europa. Quem ouve o seu canto fica extasiado.

São Francisco, que como se sabe foi o santo que mais se aproximou dos animais, contando a lenda que ele falava com eles, até mesmo dialogava com as feras, que eram mansas na relação de doçura que mantinham com o santo de Assis.

Mas o rouxinol também é muito cotado entre os pássaros canoros. Em Romeu e Julieta, de William Shakespeare, o casal que dá nome à peça discute se o pássaro que ouvem lá fora é a cotovia ou o rouxinol, preferindo que fosse o rouxinol, que canta durante a noite, enquanto a cotovia anuncia o raiar do dia.

Agora a parte repugnante, mas obrigatória, desta coluna: os seres mais desprezíveis que existem na Terra são aqueles caçadores de pássaros de várias partes do planeta que furam os olhos de ótimos pássaros cantores para que o trinar deles pareça mais melodioso, mais sonoro, mais entusiasmante do que quando cantavam antes de assim se tornarem cegos, podendo os bandidos cobrar mais caro pela venda desses passarinhos: esse é um dois mais trágicos hinos contra a insensibilidade humana que conheço.

É do folclore brasileiro esta canção apaixonantemente singela:

Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho,

Voou, voou, voou, voou...

E a menina que brincava junto do bichinho

Chorou, chorou, chorou, chorou...

Sabiá surgiu no terreiro,

Foi cantar lá no abacateiro

E a menina pôs-se a gritar:

“Vem cá, sabiá, vem cá, sabiá, vem cá!”.

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