Os 424 passos de uma epopeia
familiar
A queda, do romancista e
jornalista paulista Diogo Mainardi, narra em 424 pequenos capítulos a
verdadeira epopeia familiar que envolveu um filho nascido com paralisia
cerebral em virtude de um erro médico no parto realizado na Scuola Grande di
San Marco, de Veneza, em 30 de setembro de 2010.
O implacável colunista da Veja,
metralhadora-giratória das mais temidas e autor, entre outros, do livro Lula é
minha anta, colheu a oportunidade para deixar de lado a onipotência e
apresentar um depoimento sensível, mas não piegas, sobre tudo o que passou.
Diogo participa do Manhattan Connection, na Globonews, e escreveu que se
soubesse tocar violão teria feito uma música para Tito, o filho que nasceu
doente.
“A queda é minha serenata para o Tito, um “eu
te amo” através de Lombardo e Tintoretto.” Em 2005 Tito deu 16 passos; em 2008
conseguiu dar 359 e, em 2010, foram 424 passos. Depois Diogo parou de contar.
Os pequenos capítulos trazem um
mundo de associações culturais, uma elaboração intelectual dos passos de Tito,
mesclados com citações sobre a arte em Veneza, o projeto nazista de eliminação
dos inválidos, o filho de Rembrandt representado pela pintura do pai e as
cômicas quedas do comediante norte-americano Lou Costello.
“Eu fiz as sinapses que ele não
podia fazer”, disse Diogo, que, num primeiro momento, não queria aceitar a vida
vegetativa do filho, mas que, depois de vê-lo no corredor do claustro do
hospital, decidiu fazer de tudo por sua sobrevivência. “Entre a vida e a morte,
aferrei-me à vida”, disse Mainardi.
A ideia do livro surgiu no Rio de
Janeiro, onde Tito e a família viveram por alguns anos, a conselho médico, e
onde o menino, nas areias da praia, conseguiu dar 359 passos seguidos. Em 24 de
junho de 2002, Diogo escreveu em sua coluna na Veja: ter um filho com paralisia
cerebral é a aventura mais empolgante que existe.
O maior inimigo de um menino com
paralisia cerebral é a força de gravidade. É como se ele fosse permanentemente
perseguido por um judoca alucinado, que se diverte em passar-lhe rasteiras. O
que ele precisa fazer, antes de mais nada, é aprender a cair. Diogo aprendeu a
cair com o filho e, em síntese, mostra-nos que “saber cair tem muito mais valor
do que saber caminhar”.
Com Diogo e Tito os leitores vão
aprender a cair em Auschwitz, no purgatório de Dante Alighieri, nas garagens de
Ipanema e nas comédias de Abott e Costello. O destino de Tito está conectado à
trajetória do mundo ocidental e a nós, que caímos e levantamos todo tempo.
Record, 152 páginas, mdireto@record.com.br.
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