ELIANE
CANTANHÊDE
Os bons meninos
BRASÍLIA
- João Paulo Cunha nasceu em Caraguatatuba (SP), de uma família como milhões de
outras neste país afora, e foi um menino como milhões de outros neste país
afora. Mas embicou na vida pública como muito poucos.
Já em
Osasco, para onde foi com a família ainda criança, tornou-se metalúrgico e
participou ativamente da Pastoral da Juventude, da mobilização de operários, da
fundação do PT. Brandia a ética e a igualdade. Bom menino, bom rapaz.
Tudo
mudou quando Lula subiu a rampa do Planalto, o PT deixou de ser oposição e se
atirou de corpo e alma aos prazeres e às chances do poder. Sem lastro político
nacional, sem verniz intelectual, sem liderança parlamentar, João Paulo deu um
salto maior que as pernas: assumiu a presidência da Câmara dos Deputados já no
primeiro ano de Lula.
O início
do fim. Trocou o passado de lutas e o futuro promissor por um vício: a
embriaguez do poder, em que "os fins justificam os meios". Quis ser
tudo, virou nada. Ontem, o Wikipédia já dizia que João Paulo Cunha "foi"
um político brasileiro.
Sua
condenação pelo Supremo Tribunal Federal, por contundentes 9 a 2, entra para a
história como o fim de uma era. Vai-se a impunidade, vem a responsabilidade. A
Câmara dos Deputados, o Banco do Brasil, a Petrobras, a Presidência da
República
-as instituições, enfim- não têm donos, ou dono. São do Estado e servem à nação.
Isso
vale para o Supremo, até mais do que para todas as demais. Lê-se que Lula está triste,
acabrunhado, por sentir-se "traído". Dos 11 ministros (incluindo
Peluso), 8 foram colocados ali nos governos petistas e só 2 votaram pela
absolvição de João Paulo -por extensão, do PT.
A
corte suprema não vota mais com os poderosos, pelos poderosos. Julga com a lei,
pela justiça. Inaugura, assim, um novo Brasil.
Bons
meninos terão de se comportar sempre como bons cidadãos.
elianec@uol.com.br
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