CARLOS
HEITOR CONY
Nem tudo está perdido
RIO
DE JANEIRO - Na medida do possível, acompanhei parte do julgamento, no STF, que
ganhou louvável e merecida visibilidade durante o processo do mensalão -que,
aliás, ainda não acabou, se é que vai acabar mesmo.
A última
sessão a que assisti, a de quarta-feira passada, foi um dos melhores momentos
que a TV (em geral) me deu, desde que existe televisão no Brasil e no mundo.
O
voto do ministro Cezar Peluso, além de brilhante em si mesmo, representava sua última
atuação naquele plenário, uma vez que alcançava a aposentadoria compulsória -um
absurdo que não tem mais sentido num país em que a expectativa de vida já ultrapassou
os 70 anos.
A
primeira Constituição republicana, de 1891, não estabelecia limite de idade
para o exercício da função de juiz do Supremo. Peluso, ao atingir a idade-limite,
mostrou que está inteiraço física e intelectualmente, e seu voto tornou-se
decisivo para condenar um dos réus mais importantes do processo.
A
participação de Márcio Thomaz Bastos -que, como defensor de um dos acusados,
pediu a suspensão dos debates por meia hora para que todos pudessem
cumprimentar Peluso- foi um momento justo e comovente. Márcio falou em nome de
todos os advogados do Brasil, e o ministro Ayres Britto logo se associou à homenagem
pedida, com seu rosto expressando a alegria por estar presidindo aquele
instante.
A
tese que Peluso defendeu (os indícios podem eventualmente ter o valor de
provas, sobretudo em casos de corrupção e atentados) para mim veio em boa hora.
Em livro sobre o acidente que matou JK, de certa forma defendi a mesma tese,
chegando à audácia de concluir que, em certos casos, os indícios são maiores do
que as provas. Até hoje não se sabe se Cabral descobriu ou achou o Brasil.
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