08
de setembro de 2012 | N° 17186
NILSON
SOUZA
O poder de
Isadora
Não
me sai da cabeça a história da menina catarinense que decidiu publicar numa
página do Facebook as mazelas de sua escola – e acabou provocando uma
verdadeira revolução. Isadora Faber, de 13 anos, conquistou a audiência de
milhares de pessoas, despertou a atenção da mídia e provocou desconforto na
direção da escola e até mesmo a contrariedade de alguns profissionais do
ensino.
Um
professor de matemática, criticado pela garota, foi demitido. As merendeiras
ficaram de nariz torcido depois que ela publicou fotos da comida ruim. Os
demais professores silenciaram, perplexos. Mas as autoridades da área
educacional trataram de liberar recursos ligeirinho para consertar o que estava
estragado no colégio.
Não
há dúvida de que a adolescente exerceu o seu direito de cidadã, fazendo uso dos
novos poderes que a tecnologia proporciona aos indivíduos. Com um computador
conectado à internet e com domínio das chamadas mídias sociais, qualquer pessoa
pode, literalmente, botar a boca no mundo. Para o bem e para o mal.
A
menina de Florianópolis parece sensata e bem orientada, pois está tendo o
cuidado de elogiar as reformas e de destacar também aspectos positivos de sua
escola. Mas os professores estão, compreensivelmente, assustados com a
possibilidade aberta para eventuais abusos.
Eles
ficaram em desvantagem neste debate. Ou será que um professor também tem o
direito de criticar seus alunos publicamente? É evidente que uma atitude dessas
seria reprovada pela sociedade. Como já estão fragilizados em relação a
questões disciplinares numa época em que a permissividade passou a ser regra geral,
os mestres sentem-se expostos e desprotegidos.
Porém,
como todo problema já traz em si a solução embutida, tenho esperança de que a
menina de Floripa seja a saída para o impasse. Do mesmo modo como denunciou
mazelas da escola, também poderá fiscalizar colegas que eventualmente cometam
abusos.
Os
bons alunos terão que fazer isso, até mesmo para preservar o poder recém
conquistado, pois ataques infundados e atitudes vingativas tendem a destruir a
credibilidade dos estudantes. Os jovens que não se enganem: na primeira
injustiça visível, o aplauso se transforma em reprovação.
Mas
os professores não precisam ficar acuados à espera de soluções milagrosas.
Cabe-lhes, sim, interferir no processo, orientando a garotada sobre a melhor
maneira de utilizar o poder tecnológico em favor do bem-estar coletivo. Eles
viraram alvo, mas não perderam o poder de ensinar.
Foram
professores, é bom lembrar, que ensinaram Isadora a se comunicar com o mundo.
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