quinta-feira, 6 de setembro de 2012



06 de setembro de 2012 | N° 17184
ARTIGOS - SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR.*

O Brasil pós-mensalão

Senhoras e senhores, o Brasil está diferente. Mais do que diferente, o Brasil está melhor. Demorou, mas o dia chegou. Com o julgamento do mensalão, a classe política está entendendo que a lei também se aplica aos poderosos. A farra felizmente chegou ao fim.

O país não podia mais conviver divorciado da legalidade e de seu inerente princípio de responsabilidade. O que corroía a vida republicana não era a corrupção, mas a impunidade. Sem o reboco do poder, o corrupto é apenas um rato que se move no escuro da política; quando vê a luz, se esconde e foge rápido. No entanto, por mais veloz que seja, uma hora ele encontra os limites da lei.

Certa vez, Romain Rolland escreveu que a reparação de uma injustiça não reforma o mundo, mas ilumina um dia. E, se dia após dia levarmos luzes para lugares onde paira a escuridão, teremos um país mais justo, ético e decente. A luta pela moralidade pública é um dever da cidadania.

Não podemos jamais abandonar a arena do debate político de envergadura, pois é nos altos entrechoques da vida pública que a nação forma sua identidade coletiva e decide os dignos rumos do país. Por assim ser, a degenerescência dos costumes políticos não deixa de representar a própria apatia dos cidadãos de bem na participação responsável e efetiva nas questões democráticas.

Outro aspecto fundamental a ser destacado é que o Supremo Tribunal cumpriu o seu dever; julgou o caso e aplicou a lei em julgamento aos olhos de todos. Se foi bem ou se foi mal, os fundamentos dos votos estão aí para serem aprovados ou criticados.

Todavia, a angustiada acusação de que a Justiça não condenava políticos pertence ao passado; o presente está construindo um futuro melhor. Acredito que hoje o bom e velho João Mangabeira, homem de tantas lutas e provações de caráter, não mais diria que a Suprema Corte foi órgão que mais faltou à República. O discípulo amado de Rui até poderia discordar do Tribunal, mas dizer que faltou, jamais.

A partir de agora, nosso desafio passa a ser outro. O fato é que o regime presidencial da forma como está organizado é um copo de açúcar para abelha da corrupção. Não custa lembrar que há acusação semelhante ao mensalão contra integrantes de partido da oposição. Poderia, então, rememorar o catecismo de Pilla e voltar a defender ardentemente o parlamentarismo.

Prefiro, no entanto, fazer memória ao espírito polié-drico de Assis Brasil, que, em prefácio da obra parlamentar de Pedro Moacyr, propugnou que o país precisava construir instituições políticas originais. E não existe nada mais simples e original do que defender o encontro dos partidos com a lei, seja na prestação de contas, seja na seleção dos candidatos a cargos públicos, seja no exercício do mandato. Ou será que a farsa política não permite originalidade verdadeira?

*ADVOGADO

Nenhum comentário: