quarta-feira, 5 de setembro de 2012



05 de setembro de 2012 | N° 17183
PAULO SANT’ANA

Preteou o olho da gateada

Estive pensando em como hão de estar se sentindo esses vários réus do mensalão que já tiveram votos condenatórios contra si declarados por vários ministros.

Ser condenado por um juiz singular é uma coisa, a notícia da sentença vem de uma vez só, o sofrimento é menor.

Mas ser condenado como vão ser vários réus do mensalão, a conta-gotas com a marcha das lentas sessões, deve ser mesmo um inferno zodiacal.

E eu fico pensando também nos familiares desses réus que serão condenados. Como devem estar sofrendo com a perspectiva de que seus maridos, pais, irmãos, venham a ser mandados para o xadrez.

E o mais grave é que, pelo andar da carroça do Supremo, vai ter gente que irá para a cadeia. Não vão se livrar com os benefícios que a lei penal enseja por vezes a réus condenados.

Vai dar cadeia. A revista Veja colocou nesta semana como manchete desse assunto: “Cadeia no mensalão”.

Muitos vaticínios foram pródigos, antes de começar o julgamento, em afirmar que haveria vários condenados mas todos eles não iriam para a cadeia.

Não está parecendo assim. Hoje, o horizonte do fundo das grades está surgindo nítido nas declarações de votos dos ministros.

Preteou o olho da gateada no mensalão.

Agora só resta uma dúvida: José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares irão se juntar a João Paulo Cunha na condenação?

Eu acredito até que, se José Dirceu vier a ser condenado, será o primeiro ex-ministro da República que sofrerá uma tal grave sanção do Supremo, fato inédito na história brasileira.

O próprio procurador-geral da República, o acusador, confessou da tribuna que não há provas materiais nenhumas contra José Dirceu no processo. Mas, por outro lado, afirmou peremptoriamente que a teia de testemunhos verbais contra José Dirceu no processo é farta, abundante e rica, bastando para condená-lo.

Há um ditado jurídico que ensina que a “prova testemunhal é a meretriz das provas”. Mas notem que ela é chamada de prova testemunhal, portanto deve provar algo.

De alguma forma, o Supremo Tribunal Federal montou um julgamento meio que teatral: primeiro estão julgando os bagrinhos, só mais tarde, no grande final, vão condenar ou absolver os tubarões.

Dos dias que seguem em diante, vão pulular emoções nos votos dos ministros.

As próximas semanas serão para valer. A ninguém é mais cômodo desligar-se do noticiário diário vindo do Supremo.

Nenhum comentário: