terça-feira, 4 de setembro de 2012



04 de setembro de 2012 | N° 17182
PAULO SANT’ANA

Os medíocres e os brilhantes

Os medíocres são a grande maioria dos humanos. Eles vivem ao redor dos raros brilhantes.

Natural, pois, que os medíocres sintam inveja dos brilhantes. Por sinal, os medíocres só percebem que são medíocres porque eles notam que existem brilhantes e por eles se balizam.

Nesta condição, é natural também que os medíocres agridam os brilhantes: por não suportarem o brilho deles.

A Terra seria um paraíso para os medíocres se não existissem os brilhantes.

Em qualquer organização, entre os engenheiros, os médicos, os pedreiros, os funcionários públicos, os bancários, os artistas, quando o medíocre vê a possibilidade de substituir um brilhante, o medíocre exulta. Porque o medíocre não tem exata noção de sua mediocridade e vê na substituição do brilhante a oportunidade de vir a ser reconhecido como brilhante.

Tudo em vão. O medíocre, substituindo o brilhante, demonstrará ainda com maior ênfase a patranha da sua mediocridade.

Existem também nessa trama psicológica, por óbvio, os medíocres que se esforçam por parecer brilhantes, embora essa sua gana inútil vá logo em seguida bater nos rochedos rudes da falta de genuinidade do seu talento.

Baldada essa sua tentativa, o medíocre volta-se novamente à sua antiga tática: atacar o brilhante, tentar fragilizá-lo.

Também por óbvio, se se instala a refrega entre o medíocre e o brilhante, mais ecoante se torna a superioridade do brilhante sobre o medíocre.

O melhor mesmo para os medíocres é eles deixarem que passe o tempo, pode ser que tenham a sorte de virem a morrer os brilhantes e eles então subirão no ranking. Nunca, é verdade, atingindo os patamares reservados aos brilhantes, mas, sem os brilhantes na ribalta, os medíocres têm mais chance de se destacarem.

O medíocre, no campo das relações humanas, são a massa. Os brilhantes são a nata.

O medíocre é o rubi ou a ametista, o brilhante é o diamante.

Ambos são pedras preciosas, mas...

Existem os medíocres conformados, sabem que sempre serão considerados medíocres, nada mais lhes resta que se refestelarem na sua mediocridade.

Mas existem os medíocres rebelados, os que almejam tomar os lugares dos brilhantes.

Só que essa sua vontade esbarra numa dificuldade superveniente, caso os medíocres venham, por circunstâncias alheias ou intrínsecas ao seu mérito, vir a substituir os brilhantes: no lugar dos brilhantes, mais ainda se ressaltará a mediocridade dos medíocres, eis que fatalmente serão então comparados aos brilhantes, o que lhes será ainda mais desastroso, pela sua ausência de gema ou falta de pedigree.

Não há, portanto, salvação para o medíocre. Aí é que vem aquela circunstância já citada, a da maioria esmagadora dos medíocres que se conforma com seu patamar. Esses são os medíocres menos infelizes, os medíocres humildes.

Dá pena o medíocre arrogante, é inglória a sua peleia.

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